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“O milagre aconteceu. Aconteceu assim: eu estava de pé à janela do meu quarto, observando um percevejo que rastejava ao longo do peitoril. Eram três quinze de uma tarde de quinta-feira. Ouvi baterem à porta. Abri e lá estava ele, um estafeta dos telégrafos. Assinei o recibo, sentei-me na cama e pensei se o vinho finalmente acabara com o coração do Velho. O telegrama dizia: seu livro aceito enviando contrato hoje. Hackmuth. Era tudo. Deixei o papel flutuar até o tapete. Fiquei sentado ali. Então, abaixei-me até o chão e comecei a beijar o telegrama. (…) Meu Deus, quinhentos dólares! Eu era um dos Morgans.” Esse parágrafo acima é só pra mostrar o que sente um escritor iniciante que tem um livro aceito pela editora. É do livro Pergunte ao pó, do John Fante.

Mas, quero falar da palavra de hoje: OPTION. Quem me passou foi o Gustavo Brum, ex-líder da banda Pupilas Dilatadas (POA), e que hoje mora e trabalha com cinema em Los Angeles — terra do John Fante. Essa palavra mágica funciona lá nos Estados Unidos. Aqui, que eu saiba, ainda não. Lá, como se sabe, tem agente pra tudo. É alguém que fareja dinheiro e lucro e sai atrás dele. Option é opção, né? Então, o farejador compra a opção do livro de um autor e sai pra vender às editoras. Quer dizer, o agente paga ao autor uma certa quantia e tem seis meses pra vender o livro. Se não vender, perde a opção. E não recebe o dinheiro de volta. Aqui, o autor mesmo tem que fazer cópias e enviar pras editoras. Aí, passa um tempo e ele recebe um e-mail dizendo que já estão com agenda lotada até o ano 2020. Claro que só de livros comprados no exterior de agentes espertos.

Aí, no livro do John Fante aparece outra coisa que aqui, pelo menos pra mim, ainda não aconteceu. “Caro Sr. Bandini:

Com seu consentimento vou tirar a saudação e o final de sua longa carta e publicá-la como um conto em minha revista. Parece-me que o senhor fez um belo trabalho aqui. Acho que As colinas distantes perdidas daria um excelente título. Meu cheque está anexo.”

É isso mesmo! Uma revista comprando um conto do escritor estreante. E enviando o cheque! Nós temos centenas de revistas que podem até publicar. Mas relutam em pagar. Enviar cheque antes da publicação? Nunca. Talvez nem depois. Por isso, acredito, os Estados Unidos esbanjam cultura. A literatura é farta. Dá pro consumo próprio e pra vender pra todos os países pobres. Até escritores de terceira viram ídolos aqui. Money makes the world go around! Aqui, go down!

Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo
nem nada, romancélere de 150 capítulos

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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