Aldeia Global

Pesquisa recém-divulgada pelo IBGE dá que somos, os curitibanos, o terceiro domínio de internet no País, só perdendo para São Paulo e Rio de Janeiro. “Domínio de internet”, para quem não sabe, é um nome que serve para localizar e identificar conjuntos de computadores plugados na web. A estatística conclui ainda que Curitiba é a sétima cidade mais influente do patropi.

Centro irradiador, creiam, para mais de 16 milhões de pessoas em 666 municípios! Quedo-me pasmo: na minha infância, nem tão remota assim, a gaia Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais não ia além do Bacacheri. O bairro do Portão era quase outra cidade, distante, com uma igrejinha famosa, consagrada ao Coração de Jesus, ontem como hoje capaz de inenarráveis milagres.

Para quem, como nós, morávamos na Saldanha Marinho confluência de Visconde Nácar, ir, aos domingos, à missa do Bigorrilho, na hoje igreja dos passarinhos, era uma excursão. Sempre seguida, aliás, de encantados piqueniques nos verdejantes campos do Seminário. Ê tempo! Ê vida de viés!

Nem tão nostálgico, assim! A cidade é hoje, em minha opinião, infinitamente melhor. Conseguimos inclusão no mapa do Brasil; e até do continente, não duvidem. Não só por nossos méritos, mas também por tudo o que no mundo se estreitou consideravelmente, tornando o planetinha, ele próprio uma aldeia.

Nenhuma saudade da Curitiba cartorial, danadamente conservadora, onde apenas um gay imperava, na Praça. Osório. Já os pedófilos, notórios e inimputáveis aquele tempo, hoje quase todos mortos, atraíam os piás com balinhas nos bolsos… O meu saudoso compadre Jamil Snege é que, mordaz, gostava de imitá-los e o fazia com uma graça e uma crueza jamais repetíveis. Ê tempo! Ê vida de viés!

O que falamos no rádio, o que escrevemos nos jornais, em TV, nos blogs ou nas revistas eletrônicas internet afora, repercutem bem mais do que, em escala pessoal, por exemplo, falar (mal) da vida alheia. Aliás, minha vizinha de cerca, D. Nica, já citada aqui, acha que todo jornalista não presta. Sabem por quê? Porque, segundo ela, é feia uma profissão que fala da vida dos outros…

Será que D. Nica não está certa, às voltas lá com seus jardins,o radinho ligado às emissoras evangélico-missionárias? E contra nós, jornalistas, se defende: ela, D. Nica, quando fala, fala mal de quem não presta. Mas é gente que ela conhece, e bem – os vizinhos… Nós não, falamos mal de desconhecidos.

Isso, leitor, que somos o terceiro domínio de internet e a sétima cidade em influência do Brasil. Imagina se a gente fosse Quixeramobim… MacLuhan, um gênio, previu tudo, mas se esqueceu de D. Nica e da alma de D. Nica. Ê tempo! Ê vida de viés!

 O Estado do Paraná – 9|novembro|2008|

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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