Queijos, vinhos e mulheres: um leque de feelings

Um amigo conseguiu um Apotegma por preço bem razoável. Disse-me que já estava procurando faz tempo. Só havia encontrado Sofismas em liquidação, mas estavam com péssimo aspecto. Muito pior do que qualquer Estultice de primeira linha. Não há razão, ele me segredou, para que não se procure Sandices nestas feiras de roupas de inverno. Elas são fabricadas em cidades frias do Sul e, geralmente, se fazem acompanhar de Escólios, Apodos e Tergiversações. Nunca vi ninguém comprando tudo junto. É necessário que se examine os tecidos, os padrões, os estilos. Leviandades casam bem com Ponderações, embora alguns torçam o nariz. Acham que Subterfúgios cabem melhor na receita, mesmo não sabendo explicar.

Aí, justamente, se abre um leque de feelings: Hipérboles, Jactâncias, Preponderâncias, Postulações e, em menor grau, Suscetibilidades. Posso dizer que já fui grande consumidor de Sicofantismo e Tonitruações. A diferença é que vivia num clima temperado e a safra deles era sempre farta e com preço correto. Hoje prefiro Salamaleques em molho de Simulacros que, frise-se, não são muito fáceis de se obter. Acontece que refinei o paladar e os anos de estrada aconselham não tentar Tresvarios com Lisonjas, queijos, vinhos e mulheres. Sempre haverá alguém para nos lembrar do nível de Remoques em que chegamos. Teremos que engolir Blasonarias, Deambulatórios, Embelecadores, Garabulhas e Imiscibilidades. Melhor eu ficar falando de Pirilampos — insetos da ordem dos coleópteros que apresentam órgãos fosforescentes na parte inferior dos segmentos abdominais.

Ah, que belos nomes eles têm! Vaga-lume, caga-lume, caga-fogo, cudelume, luzecu, luze-luze, lampíride, lampírio, lumeeira, mosca-de-fogo, noctiluz, pirífora, salta-martin, uauá.

*Rui Werneck de Capistrano vai de bazófia e blasonarias

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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