Digamos que você começasse agora a se preocupar com a mancha vermelha que existe na face do planeta Júpiter. Começasse a arranhá-la com a unha do mesmo jeito que coça a espinha que lateja no rosto. Primeiro que Júpiter é um globo gasoso. Imaginar uma coisa dessas leva tempo. Por que o gás não evapora? Composto essencialmente de hidrogênio – o gás mais leve –, ele deveria evaporar-se e fim. Acontece que Júpiter é maior que todos os planetas juntos e tem uma poderosa força gravitacional. Girando muito rapidamente — um dia lá dura só 9 horas e 45 minutos —, ele aprisiona o gás. Para combater a mancha vermelha que tem 48 mil x 11 mil e 200 km — bem maior que a Terra! — só quando o Sol, seguindo o padrão imutável das estrelas, se expandir e queimar todos os planetas interiores (o nosso incluso). Júpiter vai contrair-se num denso globo de elementos pesados — tornando-se uma nova Terra, com o carbono imperando. Aí, a mancha some. Espere sete milhões de anos e verá. No entanto, a mancha vermelha pode muito bem ser apenas a lente do gigantesco telescópio usado pelos jupiterianos para nos observar durante as horas em que estamos bestando no Facebook ou abrindo sites pornôs. Para reforçar esta ideia, sabe-se que por vezes a mancha é capaz de sumir completamente — retração da lente? Igual espinha na cara de adolescente. Outra coisa importante é lembrar que não adianta lançar moda Primavera/Verão ou Outono/Inverno em Júpiter. Por causa da distância de 772 milhões de quilômetros do Sol, as estações não habitam o planeta. Quando tentar penetrar na atmosfera jupiteriana, vá preparado para chuvas amoniacais e neve. Se tiver medo de raios não deve nem comprar pacote de feriadão para ir a Júpiter. Um relâmpago de lá faz os nossos amedrontadores fenômenos parecerem apenas faíscas de isqueiro vazio.

Imagine uma coisa que nunca nem pensou. Se Júpiter não existisse, nós, com certeza, já teríamos ido, literalmente, pro espaço. Acontece que Júpiter é nosso poderoso escudo visível contra todos os meteoritos que tentam nos atingir. Pelos milênios afora, ele nos salvou muitas vezes. Sua imensa força gravitacional atrai os meteoritos que vêm em nossa direção. Por isso, vemos alguns borrões na superfície do planeta, causados pelo impacto deles. Por Júpiter! Rejubile-se!

Se você é do tempo do Sputnik, esqueça tudo. Entre um clichê bem temperado e um arquétipo bem passado, fique com os dois. Os gestos não-verbais falam mais alto: polegar e indicador unidos em círculo indicam o lugar certo para certas manias. Vá!

Vive no mundo da rua

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em texto rui werneck de capistrano e marcada com a tag , , , , , , , , , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.