A demissão de Joaquim Levy e um presidente desgovernado

Joaquim Levy já está fora da presidência do BNDES. Ele formalizou sua demissão neste domingo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Vai entregar o cargo na manhã de segunda-feira a Guedes e depois falará com a imprensa. No sábado, Levy foi tratado com desrespeito pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista. Estava zangado com a nomeação de Marcos Barbosa Pinto como novo diretor de Mercado do banco estatal.

Costuma-se dizer que o estilo é o homem. No caso de Bolsonaro é também um modelo de gestão. Ele é capaz de ser escandaloso com uma simples discordância como presidente da República, que poderia ser resolvida numa reunião de trabalho com o mínimo de prejuízo político e profissional para as partes envolvidas. Imaginem a dificuldade agora para Guedes arrumar um bom substituto para Levy. Seja quem for o novo presidente do BNDES, o sujeito terá de enfrentar um clima de baixeza moral e insegurança. Ao aceitar o cargo, ele próprio já começa em um papel de pouco respeito próprio.

Na noite de sábado, Marcos Barbosa Pinto já havia pedido demissão. Fez isso de forma equilibrada, como devem ser os rompimentos profissionais e também os políticos. Em nota, ele afirmou que não continuaria no cargo “diante do descontentamento manifestado pelo presidente da República”. Noutro trecho fez uma defesa que aponta sutilmente para o desastre que pode ser para o mercado profissional a forma de relacionamento imposta por Bolsonaro. “Tenho muito orgulho da carreira que construí ao longo dos anos, seja no governo, seja na academia, seja no mercado financeiro”, ele escreveu.

O desfecho ficou assim, com o subordinado dando uma excelente lição de moral ao chefe truculento e desqualificado. Toda essa confusão por causa de algo menor em relação à quantidade de problemas que o Brasil precisa enfrentar vem da péssima formação de Bolsonaro, aprendida na escola da vida fácil dos políticos do baixo clero. Ele não tem noção nem de bons modos. Qualquer um que encare trabalhar para alguém assim deve ir preparado para enfrentar desrespeito e humilhação. É claro que profissionais de verdade não serão atraídos para um governo com este, digamos, modelo de gestão.

Este episódio demonstra como Bolsonaro é um desastre político e administrativo, de um modo que nunca aconteceu antes em nossa história recente. É impossível estabelecer uma relação de trabalho em seu governo, onde não se sabe que rumo tomar. Bolsonaro é um sujeito autocrático, de base simplória. Muitos são assim na política. Só funcionam em proveito próprio e num âmbito restrito, como políticos de baixo clero ou encaixados em cargos nomeados de menor relevância. Porém, aí está esta figura tosca como presidente do país. Um autocrata é sempre negativo no comando de uma nação e neste caso Bolsonaro é o pior exemplo. É um autocrata que não sabe o que fazer no governo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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