A face humana de Gleisi Hoffmann

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© Lula Marques

Achei muito interessante, espantoso até, ver nesses dias a senadora Gleisi Hoffmann tomando consciência de sentimentos humanos. O fenômeno ocorreu na ocasião da prisão de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, pego pela Polícia Federal na Operação Contas Abertas, ação policial que foi um desdobramento da Operação Lava Jato. Bernardo já foi liberado por Dias Toffoli, do STF, mas terá de ficar com tornozeleira eletrônica e recolher-se à noite. Portanto, crianças: tomem cuidado durante o dia. Mas quando houve a prisão, a senadora petista ficou tocada pela emoção, o que costuma ocorrer apenas quando ela está buscando voto do eleitor e pode-se ver no horário eleitoral, quando ela surge como uma pessoa sensível, muito educada e até carinhosa com as pessoas.

Quem não é do Paraná e só conhece Gleisi como a senadora de maus bofes da Comissão do Impeachment do Senado não acreditaria nem se visse com os próprios olhos. Na hora de pedir voto ela se transfigura. É difícil acreditar que alguém de tanta agressividade e até má-educação possa mudar de tal jeito, mas ela vira mesmo uma figura muito humana.

A gente poderia até pensar em tal transformação como exclusividade de uma eleição, mas agora, quando o ex-ministro foi levado pra cadeia, pudemos ver que não é só quando precisa se reeleger senadora ou disputa o governo do estado que Gleisi consegue expressar sensibilidade e preocupação. O ex-ministro acusado de pegar propina retirada de empréstimo consignado de funcionários aposentados, foi mencionado por ela, com os olhos quase marejados, como “pai dos meus filhos”. A operação Custo Brasil foi também acusada por ela de ser “uma clara tentativa de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores que discordam dos argumentos que vêm sendo usados para tirar da Presidência uma mulher eleita legitimamente pelo povo brasileiro; afastar uma presidenta, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de votos”. Como diz a moçada, “menos, Gleisi, menos”. Com a desproporção da alegada conspiração não tem como isso colar, senadora.

A emoção da petista foi imensa, ainda que parecesse improvável. E, de fato, logo Gleisi voltou ao batente como a mesma Gleisi de sempre. Na segunda-feira ela ainda encenava na tribuna o papel de esposa comovida, em discurso em sessão deliberativa, quando falou pela primeira vez no Senado sobre a prisão de Paulo Bernardo. No entanto, logo depois, participando da reunião da Comissão do Impeachmment, ela voltou a ser a chamada “generala”, comandando a violenta e patética tropa de choque da bancada governista, atacando de forma desonesta Janaína Paschoal, a advogada da acusação e corajosa autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

Gleisi insinuou outra estrambótica teoria da conspiração, apontando o juiz que autorizou o pedido de prisão de Bernardo como orientando de Janaína, no curso da faculdade de Direito da USP. Já tinha de volta a cara de brava e o olhar irônico e cruel. Como eu disse, a petista voltou a seu estado normal. Quem estiver com saudade da Gleisi sensível e repleta de sentimentos humanos terá de esperar o período de campanha eleitoral. Ou então mais uma prisão do marido dela

José Pires|Brasil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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