A invasão da casa de Leopoldo López e os livros deixados para trás pelos capangas de Maduro

Tive uma boa impressão ao ver as fotografias do interior da casa do líder oposicionista venezuelano Leopoldo López. Muitos livros, o que é algo inusitado na residência de um político latino-americano. Infelizmente o motivo das fotos foi a invasão da casa do político, que desde terça-feira está refugiado na embaixada da Espanha. López mantém-se na luta nas ruas contra a ditadura de Nicolás Maduro, ao lado de Juan Guaidó, presidente do Parlamento reconhecido por mais de 50 países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, como presidente encarregado da Venezuela.

López é um político diferente da tosca direita venezuelana. Tem o perfil social-democrata. Era um dos favoritos na última eleição venezuelana para presidente, mas junto com Henrique Capriles promoveu o boicote das eleições, forçados pelos esquemas injustos que acabaram levando à reeleição fraudada de Maduro. Ele estava em prisão domiciliar, vigiado por guardas armados, até ser libertado por soldados contrários ao governo venezuelano durante a rebelião popular que começou na segunda-feira.

A invasão da casa do líder oposicionista foi certamente feita por um bando ligado ao governo Maduro. Os bandidos reviraram o local, destruiram e roubaram muita coisa. Mas como é do comportamento de capangas de ditadores, deixaram os livros, que aparecem nas fotos feitas enquanto Lilian Tintori, esposa do líder oposicionista, avaliava os danos e começava a arrumação. “Arrumarei minha casa, porque é o nosso lugar, onde vivem nossos filhos, se queriam amedrontar-nos aqui seguiremos de pé, firmes, como todos os venezuelanos”, ela escreveu no Twitter.

A foto que publico aqui é do Twitter dela. Reparem que em meio aos muitos livros, no chão está uma obra de Nicolau Maquiavel — o grande Nicolau — tendo na capa sua imagem mais conhecida, com o atilado olhar, numa cena em que o filósofo italiano bem pode estar questionando como é que ainda estamos desse jeito na América Latina, depois de passados tantos séculos que ele pensou e escreveu tudo aquilo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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