A milonga dos 500

GLEISI HOFFMANN lança mais um compacto simples, a ‘Milonga dos 500 Dias’. Edição comemorativa dos 500 dias de prisão de Lula, ex-presidente da República, criador de Dilma e patrono de Gleisi. Música dela mesma (perdoem o cacófato) e acompanhamento de quarteto de zabumba e triângulo. Os versos são conhecidos, versados em tantos outros compactos simples da cantora, que oscila entre o brega-chique o tecno-brega. Entrega versão escrita à imprensa que – como o Insulto – divulga por falta de assunto.

A MÚSICA É RUIM e os líricos, os versos, piores. Aquilo de Lula Livre, preso político, justiça dazelite, falta de provas, duplo grau de juis, juzis – como é mesmo? -, sim, jurisdição, ampla defesa, ampla mentira. Não vale a pena ouvir de novo, Gleisi é previsível, desajeitada. Parece aquela mulher que você, eu e a torcida do Paranazão levamos uma vez para jantar e devolvemos em casa antes da sobremesa. Que só fala de outro, um cara feio, barbudo, faltando meio dedo. Pagar janta e ouvir tesão encruado é dinheiro a fundo perdido, tipo BNDES e Cuba.

NESTA ALTURA da vida, divorciada, livre e desimpedida, esperava-se que Gleisi aproveitasse o novo estado para explorar o que tem de melhor, o narizinho, o topete, a camisa a romper dos últimos botões, a instigante insolência. Como artista, que nos brindasse com outro repertório, um choroso tango. Música de coração arrependido, de perdão pelos erros da política e da política dela (de novo o maldito cacófato). Tipo assim enganamos, fizemos mensalão, petrolão, aparelhamos o Brasil com a companheirada, essas coisas que todo mundo sabe.

PODE SER até em compacto duplo. Do outro lado talvez um bolero, na linha do ‘Contigo aprendi’. Aprendi que ajudei a criar e eleger Bolsonaro. Não fossem nossas peraltices, fraquezas, ousadias, a cupidez incontida, a ignorância crassa e a ilusão de onipotência, Lula seria o Hitler do bem, dono do reich de cem anos. Tantas fizemos, eu culpada porque segui cega o líder, cresci com ele, prosperei com ele, para todos alimentarmos, elegendo e entupindo de votos o exterminador de nosso futuro. Perdão, não aprendi, ainda me considero inocente. Eu mais Lula e mais eu.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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