A tragédia é Crivella

© Pedro Ladeira|FolhaPress

O Rio está pagando por tê-lo como prefeito. Quando ele pagará?

Muito antes da chuva de segunda-feira, o prefeito Marcelo Crivella já estava devastando o Rio com seus ventos de zero quilômetro por hora. O carioca sabe do que estou falando. A cada rua esburacada, calçada imunda, lixo por recolher, equipamento urbano destruído, sinal de trânsito quebrado, carros do VLT e do BRT parados e vigilância zero nas ruas, a cidade se desfaz aos seus olhos. E estes são apenas alguns itens a confirmar um diagnóstico cometido há dias pelo próprio Crivella: “O Rio é uma esculhambação”. O mesmo Rio do qual ele é prefeito há três anos.

Se fosse uma autocrítica, haveria uma remota possibilidade de tolerância. Mas Crivella não se vê como parte do problema e muito menos como razão do problema. Ele não quer saber se os bueiros, rios e galerias estão entupidos e que consequências isso trará. Os órgãos públicos que lhe são subordinados estão paralisados por sua inércia —uma árvore caída leva semanas para ser retirada. Diante desse quadro, pode-se imaginar como não estarão a educação e a saúde. E, para desespero do comércio que lhe paga impostos e sustenta a sua inoperância, os camelôs e os ambulantes se tornaram donos da cidade —sim, mas tente vender Bíblias na porta de suas igrejas.

Crivella não gosta do Rio e nem de ser prefeito. Seu ódio às tradições da cidade, como o Carnaval, e seu descaso pelo nosso patrimônio histórico têm reflexos até econômicos ao afastar turistas e negócios, mas ele não está nem aí. E sua aversão ao cargo para o qual foi eleito se manifesta a cada chuva que desgraça a cidade.

Ele já não disfarça o cinismo. Suas explicações para a tragédia desta semana são as mesmas que deu sobre a chuva do mês passado e a do Carnaval de 2018. Só que, a cada chuva, a tragédia aumenta —principalmente a de tê-lo como prefeito.

O Rio está pagando por isto —foram dez mortos desta vez. Quando chegará a vez de Crivella pagar?

Ruy Castro

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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