Adeus à armas. Ou quase

Meninos, eu tentei. Nos últimos 40 anos lutei todas as lutas para exercer no Paraná o ofício de jornalista. Passei por fechamento de jornais, demissões coletivas, patrões irracionais, processos por calúnia, injuria e difamação. Pelas páginas, mais errando que acertando, já matei desembargador vivinho da Silva e ressuscitei empresário propineiro, desencarnado e enterrado. Pedi desculpas ao desembargador. E no caso do empresário, fiquei com medo de ser milagrosa.

Paguei, a duras penas, até Fevereiro, R$2 mil por mês, em 10 prestações, para aquele ex-procurador da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, o de barbicha grisalha, porque apontei a demora nas investigações do escândalo do Banestado, há 12 anos. Ele nunca explicou a razão da demora, mas eu fui condenada por dano moral pela ironia da escrita.

É essa a minha vida. No pessoal, aos 65 anos, a libido reaparece só mesmo diante de um moreno alto, bonito e sensual. Pelas circunstâncias, quase sempre no virtual. Mas, se surge uma notícia quentinha, pronta pra ser escrita e jogada aos quatros ventos, lá vem uma expectativa incontrolável. Quanto mais espetaculosa e devastadora a informação, maior o clímax.

Nada, nem riso de neto, nem viagem pra Toscana, nem vestido rodado ou batom da Lancôme me provoca tanta alegria como ver as letrinhas compondo as palavras, as frases e o texto, até o ponto final. É a minha pira, ora.

Na experiência mais recente, ou numa última tentativa de ser feliz de novo, me agarrei com unhas e dentes no blog Contraponto. Minha alma de repórter encontrou um sujeito louco por jornalismo, de uma tenacidade feroz, incansável na busca do fato, o Celso Nascimento. Completamo-nos, como café com leite: ele focado na verdade, eu perspicaz. Ele dorme até tarde e eu madrugo, eis aí o capital essencial para o frescor da notícia. E assim fomos seguindo por 18 meses, brigando, divulgando, denunciando, provocando, rindo e…escrevendo. Bom demais.

O Contraponto tem leitores de qualidade, os que nos massacram nas redes, os da certeza absoluta de que somos comunistas, petistas, tucanos e pássaros de todas as penas e cores. Outros tantos juram que o capitalismo vadio nos mantem na vida fácil. Para nós, elogio de marca maior. Em jornalismo, a regra é clara: quanto maior a diversidade sobre a crença do escrevinhador, melhor.

Mas o Paraná político/econômico que se apresenta hoje é incapaz de nos manter, a ambos, na ativa, sem exigir subserviência. E entre entregar o ouro, o nosso ouro, que só levanta as orelhas quando ouve “independência profissional”, é melhor dar adeus às armas do que dar as costas da credibilidade para políticos ou empresários, os mais ávidos por notoriedade .

Foi por pouco que não consegui, desta vez. Bastava um rendimento mensal tipo auxílio-moradia, mas honesto e merecido, por algum tempo. Não deu. Meu coração ganha mais um pontinho preto. E toda vez que um, ou dois, ou três jornalistas bem intencionados saem da área, o Paraná faz coro com a galinha d’angola, “tô fraco, tô fraco, tô fraco”. Eis aí a prova cabal: Rogério Galindo, Reinaldo Bessa e Luiz Geraldo Mazza – que dor estranha essa, Mazza , de puro desalento.

O Celsinho conduzirá o Contraponto, sem prejú do brilho e do bom jornalismo. Da minha parte não dá pra conciliar a luta pela sobrevivência diária com a pauleira de um blog 24 horas em alerta.

Quando houver tempo e não der pra segurar a comichão da notícia, serei pedinte de espaço. Vou forçar a amizade com os blogueiros da província, como o próprio Contraponto, o amigo de sempre, o Zé Beto, o professor Aroldo, o Cicero Cattani, o Esmael Morais. E escrever. É só isso que, mal ou bem, eu sei fazer mesmo! Minha pira, minha vida! Até breve!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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