Ah, os advogados!…

Sou advogado, formado pela UFPR e inscrito na OAB. Passei a maior parte da vida no serviço público, mas na temporada posterior de militância advocatícia, creio não ter maculado ou aviltado a profissão. Por isso, sinto-me à vontade para dizer que, com a devida vênia, em determinadas ocasiões, sinto vergonha de certos colegas – se me permitem a audácia de chamar de colegas certos figurões do Direito.

Leio nas folhas que um grupo de advogados pretende infernizar a vida profissional do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. “Ele não terá vida fácil na planície” – garante um dos destacados membros do grupo autodenominado “Prerrogativas”.

Qual teria sido o pecado de Sérgio Moro? Se espremermos os motivos dos componentes do “Prerrogativas”, concluiremos ter sido um só: o cumprimento do dever.

E tudo se explica quando se conhece os nomes dos medalhões do movimento. Todos o suprassumo do ofício. Um defende a ex-presidente Dilma Rousseff e o deputado Aécio Neves; outro, o senador Renan Calheiros; um terceiro é sócio de José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e ex-advogado de Dilma; tem também aquele criminalista que atende por um doce apelido infantil; os demais entraram em confronto com Moro durante a Lava-Jato, na defesa da Odebrecht e de outras empresas do mesmo naipe.

Há ainda entre os luminares um presunçoso jurista paulista, com extensa e ininteligível obra acadêmica, petista de carteirinha, que se acha acima do apogeu, se isso fosse possível. Quando participa de congressos, simpósios e eventos do gênero, é sempre o último a falar, porque depois dele ninguém pode ter voz. Participou da banca examinadora de doutorado de um dos mais competentes professores de Direito desta província e conferiu-lhe nota 9,5, enquanto os outros quatro perquiridores deram-lhe 10 com louvor. Dez ele conferia apenas para si próprio. Em minhas petições, nunca o citei como referência doutrinária, porque não entendia direito o que ele pretendia dizer. Mas é um mandarim cantado em prosa e verso.

Estão todos de prontidão, caso Sérgio Moro solicite autorização da OAB para advogar, ao final de sua quarentena. Alguns argumentam que Moro “foi maléfico para a advocacia” como juiz e, por isso, não merece exercê-la. Outros, condenam-no por não haver informado aos órgãos competentes, quando ministro, supostas irregularidades cometidas por Bolsonaro.

É chegada a hora da vingança.

Enquanto isso a popularidade de Moro continua nas alturas e ganha fôlego inclusive nas redes sociais com um salto de 88%, herdando, segundo os especialistas, a fatia antes pertencente ao capitão-presidente.

Essa realidade tem atormentado os doutores do “Prerrogativas”, que sequer são mencionados em pesquisas de reputação e notoriedade. Só me resta pedir ao querido editor Zé Beto licença para encerrar estas mal traçadas com um palavrão:  A inveja é uma merda!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Célio Heitor Gumarães - Blog do Zé Beto e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.