Algazarra no alpendre

Entrou em 1962, em um ano e meio muito louco que passou em Curitiba, entre dois anos em Paris e três anos em Londres. Subir na Alameda Cabral, eu e o Ivanzinho do Amaral. Não chegamos a ser amigos, mas naquela noite a intenção é unida. Vamos encontrar duas irmãs numa dessas casas mais antigas num terreno alto, com escadinha que cortava um jardim.

Entre na casa, nem pense. O namoro seria no alpendre, fracamente iluminado. Aquelas irmãs eram, digamos, mais pais do que o comum das donzelas curitibanas. Bonitas de rosto e corpo, e bem diferentes: a Ivan mais morena, a minha clarinha.

Os pares se entrelaçaram logo nos beijos e amassos. Mas não deu nem para o aquecimento. Em menos de um minuto, uma megera da tia das moças adentra no alpendre subindo nas tamancas: “Seus vagabundos, ordinários! Isso aqui é uma casa de família! Ponham-se já daqui pra fora, seus cafajestes !!! ”

Ao final da frase já é permitido no olho da rua. Descubra um Cabral com o rabo entre as pernas em direção ao centro da cidade. Dava ainda para pegar a sessão das oito no Cine Avenida. O filme em cartaz tinha tudo a ver: Os cafajestes.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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