Árvres

Sempre tratamos as árvores muito mal, mesmo antes de trocá-las por dormitórios capelinha padrão mogno. Árvores já serviram para cozinhar o almoço, fazer carruagens, casas e construção civil de toda sorte, navios (inclusive de guerra), papel, móveis, tingir roupa, estradas de ferro e até de rodagem. A Inglaterra não temia perder os Estados Unidos por outro motivo senão que lá havia mastros grandes o suficiente para construir invencíveis vasos de guerra. Até fizemos um dia para elas, mas foi péssima retribuição. Dia do índio, negro, mulher, do professor. Se há um dia para você, tente melhorar de vida.

Suas descendentes continuam em guerra, agora com motosserras de um lado e ambientalistas do outro. – Esta árvore é minha para gerar empregos. – Não, ela vai fixar carbono!

Conseguimos quase acabar com a escravatura humana, rodeios e touradas estão no mesmo caminho, mas ainda estamos longe das árvores. Estaria pirateando a frase imexível do ex-ministro se dissesse que árvore também é ser humano, mas este é o recado deste livro. Daqui para frente elas estarão em melhor companhia com o traço doce e humorado do Orlando do que estiveram com guerreiros, mercadores, cientistas e engenheiros. Quem sabe não é disto que precisam ? E falando nisto, o prefácio de que este livro precisa já foi escrito há mais de meio século:

“Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, algum fios elétricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. As terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe pelo tronco. Nenhum desses incômodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões de cãezinhos transeuntes.” Carlos Drummond de Andrade, Fala, Amendoeira, 195)

Efraim Rodrigues, Ph.D. em árvores

Copyright Orlando Pedroso, Editora Fantasma, 2011. Coordenação Editorial: Cecília Laszkiewikz. Projeto gráfico e edição: Estúdio Bala Edição Ltda. Consultoria de Gustavo Duarte e Maurício Negro. Editora Fantasma.

Árvres, de Orlando Pedroso, 72 páginas, 62 desenhos impressos em papel chamois, 120 gramas, lançado dia 7 último no bar Genial, Vila Madalena, São Paulo. Escreva para fantasmaeditora@uol.com.br e encomende o seu exemplar agora mesmo. Bah! Solda

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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7 respostas a Árvres

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