As amargas, não

Já colecionei frases de mau humor. Mas é porque não conhecia direito Alvaro Moreyra

Há anos, e ponha anos nisso, colecionei frases amargas, mordazes, cruéis —de “mau humor”— sobre todos os assuntos. Era um jeito de rir da vida. Mas só porque, então, eu não conhecia direito Alvaro Moreyra. Foi um grande escritor, autor de “As Amargas, Não”. E está aí o mote: as amargas, não. Eis algumas de suas frases: “Que mau gosto, odiar! Que beleza, querer bem!”. “O céu é uma cidade de férias.” “A vida separa. A morte apenas ausenta.” “O mar não tem fim. O horizonte dá a ilusão do céu. O mar continua.” “Para que vender a alma ao diabo? Basta olhar o céu. O céu é grátis.” “Nunca um desejo me afligiu. A imaginação me deu tudo.” “Nascemos para a companhia. O amor é um canto coral.”

 “Em todos os tempos, os homens falaram mal do seu tempo. Foi até por isso que houve o Dilúvio, muito antes de Luís 15. Que adiantou?” “Está uma noite linda. Só para os vagabundos nascem noites assim.” “O que falta ao mar é a calma. Mas, mesmo nervoso, que grande mestre!”. “Quanta mulher-sabiá! E quanto homem-mangueira!”. “Como o Brasil é longe!”. “Sou o mais jovem dos meus filhos.”

“Não nasci para chefe. Chefe manda. Eu peço. Peço que não me mandem.” “Só os pobres sabem desejar…”. “Principiamos poetas. Acabamos documentos.” “Ainda é muito manhã. Não li nenhum jornal. Estou inocente.” “Sábado, muita gente vai para fora. Eu, em geral, vou para dentro.” “Sou maníaco por burros; bem entendido, burros substantivos”. [E, quando lhe perguntavam o que fazia para não envelhecer]: “Faço isto: ponho o passado no presente”.

“Vejo que os cegos andam sempre sorrindo. Desconfio que os surdos são mais felizes…”. “Falar é despedir-se. Estas palavras não voltarão.” “Com uma coisa nunca me conformei: Tu és pó e ao pó voltarás. Pó, não. Tu és luz e à luz voltarás.” “Estou com a ideia de passar uns dias no hospício. Sempre preferi os doidos sinceros.”

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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