As joias dos Cabral

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© Myskiciewicz

Os dois mandados de prisão expedidos contra o ex-governador Sérgio Cabral – um pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, outro pelo paranaense Sérgio Moro – indicam que não será fácil para ele deixar a cadeia. Os desvios atribuídos ao grupo de Cabral somam 220 milhões de reais em dinheiro público. Num dos depoimentos de sua delação premiada, os executivos da Andrade Gutierrez disseram ter pago mesada de 300 mil reais a Cabral entre 2010 e 2011, parte da propina pela reforma do Maracanã para a Copa do Mundo. Dinheiro que a Andrade mandava entregar em espécie, a um assessor preso ontem.

O Ministério Público agora busca descobrir onde foi parar todo o dinheiro recebido ilegalmente pelo ex-governador em troca de contratos e isenções fiscais com o governo do estado do Rio. Sabe-se que parte foi esquentada em forma de contratos fictícios de consultoria e de assessoria jurídica com empresas de pessoas próximas a Cabral e com o escritório de advocacia da ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo. Um quinhão foi parar em contas secretas em nomes de laranjas. Outra parte foi  transformada em bens, como o Range Rover presenteado pelo empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta. Uma quarta destinação desse dinheiro, porém, ainda está por ser explorada pelo MP. É a caixa de joias da ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo – que, segundo o próprio Cavendish já adiantou em sua proposta de delação premiada, foi acrescida de um anel de brilhante solitário de 220 mil euros, ou 800 mil reais –, que Cabral o fez comprar em uma viagem a Mônaco, em 2009.

O anel de Cavendish é apenas uma das estrelas da caixa de joias de Adriana Ancelmo. Não foi sequer declarado à Receita Federal quando ela e o então governador retornaram ao Brasil. Pela lei, quem entra no país com bens de valor superior a 500 dólares, deve necessariamente pagar 50% de imposto. Só aí, teriam sido sonegados em torno de 110 mil euros aos cofres públicos brasileiros. Há provavelmente muito mais. Adriana Ancelmo ostenta no dia a dia de trabalho um brinco de brilhantes que vale cerca de 400 mil reais, e será objeto de investigação.Outro xodó é um anel que ela ganhou de aniversário em 2011, desta vez não de Cavendish, mas do marido. O governador e a mulher estavam separados, em uma crise conjugal agravada pelo episódio da queda do helicóptero que revelara ao Brasil a intimidade de Cabral com Cavendish. Cabral tentava uma reconciliação, Adriana resistia. No dia do aniversário, ela foi a uma joalheria num shopping da Zona Sul do Rio, escolheu o anel – outro belo solitário de mais de 200 mil reais –, e mandou a fatura para o governador pagar. Virou um must entre as vendedoras da loja a frase dita pela advogada na ocasião: “Diga a ele que não quero ter de falar duas vezes.” Questionada recentemente pela piauí sobre o episódio, Adriana Ancelmo declarou, por e-mail: “Parece pouco crível e absolutamente descabida qualquer informação no sentido de que eu teria reservado, em qualquer que fosse o lugar, algum presente a ser por ele dado a mim por ocasião do meu aniversário”. Isso porque, segundo ela, estavam separados.

Na operação de ontem, que teve apreensões no apartamento do ex-governador, em sua casa de praia em Mangaratiba, na região de Angra dos Reis, e em diversos outros endereços, havia bastante gente de olho em cofres e caixas de joias.

Malu Gaspar, da revista Piauí

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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