As namoradinhas do Prof. Thimpor

Ana. Nosso romance terminou quando ela se entregou para um vendedor das Casas Pernambucanas. Atormentada pela traição, Ana fugiu para Alagoas três meses depois. Minha paixão por Ana durou até ela tentar vender minha coleção de figurinhas carimbadas para o dono da bomboniére do cinema. Ana foi a única capaz de pagar as contas do hospital quando nossas brigas descambavam para a pancadaria e ela descia a lenha pra valer.

Beatriz. Beatriz conquistou meu coração e meu colesterol quando amarrou os cadarços do meu sapato no rabo do gato da nossa família, um felino infeliz que acabou se suicidando num sábado chuvoso, depois de passar semanas internado numa clínica veterinária da cidade. Nossos encontros, a maioria escondidos, se davam sempre na curva do rio, debaixo do pé de eucalipto, quando ambos torcíamos para que o jipe do prefeito não surgisse na estradinha lamacenta e nos desse um flagrante inevitável. Num desses encontros Beatriz disse que desconfiava do meu amor, que eu não demonstrava uma ponta sequer de paixão, mas eu fiz que não ouvi, peguei minhas roupas e fui embora, sem olhar para trás, tornando as coisas mais difíceis ainda. Assim, Beatriz passou pela minha vida, balançando o meu coreto e devorando todos os sanduíches de nossos piqueniques.

Clara. A única dificuldade do nosso namoro foi uma irmã gêmea de Clara, Abigail, com a mesma cara, a mesma persistência e a mesma pinta na coxa esquerda. Quando eu pensava que estava com Clara, estava com Abigail, e vice-versa. Durante todo o tempo eu ficava tentando descobrir com quem estava saindo e nem podia prestar atenção no filme. Acabei descobrindo que Clara era a de voz fanhosa por acaso, ao ser esmurrado violentamente pelo amante de Abigail, um alemão parrudo, com um trinta-e-oito deste tamanho. Desiludido, pedi mais um conhaque e me apaixonei por Diana.

Diana. Conheci Diana na Churrascaria do Julião, ao ser atingido por um cupim mal assado, arremessado por um bêbado atrevido. Diana foi quem segurou o bêbado, pagou a conta e me tornou um vegetariano incontido. Hoje passo ao largo quando ouço falar em bife a cavalo. Tudo o que restou do nosso romance foi uma samambaia mal cuidada que enfeita a sala de costura de titia.

Gilda. Era a única disponível na festa, estava alucinada e não sabia dançar. Mas o sábado foi magnífico e se não fosse um tango mal acabado o fim de semana teria sido perfeito.

Hortênsia. Ela se recusou a dizer seu nome durante semanas e foi nesse período que gastei todas as minhas economias em pescarias insossas e pacotes de algodão doce, sem falar nos pés-de-moleque. Uma paixão passageira, mas gratificante.

Lúcia. Apaixonou-se subitamente pelo Caubi Peixoto, arrumou as malas e viajou para Minas, levando parte da minha vida e o dinheiro do aluguel da quitinete.

Maria. Argentina, Maria Ornitorrinco sumiu quando voltei com os ingressos para o teatro. Quem souber do seu paradeiro favor avisar que a peça estava ótima.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em As namoradinhas do Prof. Thimpor e marcada com a tag , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.