Até quando a Nação estarrecida aguentará a destemperança, a leviandade e a insensatez da família real? Até quando seremos obrigados a suportar um bando de aloprados que, por um descuido da democracia, se assenhorou do poder e agora dita cátedra e espalha desrespeito e ofensas a torto e a direito? Em viagem ao outro lado do mundo, o desvairado-mor deixou no Brasil os seus mais legítimos representantes – três moleques tão destrambelhados quanto o pai, senão mais, que mantêm aceso o fogo da irresponsabilidade, da maledicência e da idiotia. A cada dia que passa, conseguem superar-se. Têm a graça de um orangotango e o cérebro de uma estrela-do-mar.

Em Riad, na Arábia Saudita, depois de se dizer encantado por haver passado a tarde com um príncipe, o capitão Messias fez beicinho e se negou a cumprimentar o presidente eleito da Argentina, simplesmente por não ser ele o candidato de sua predileção. No Brasil, o trio de filhotes posta no twitter um vídeo onde o pai é comparado a um leão cercado de hienas, descritas como o seu próprio partido, o PSL, como o STF, a imprensa, a ONU, a OAB, o Greenpeace e os partidos de oposição.

O comportamento da trupe é o costumeiro. Mas, desta vez, fez jus a uma dura resposta do ministro Celso de Mello, do STF, para quem “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.

“Esse comportamento revelado no vídeo em questão” – frisou o decano da Suprema Corte – “além de caracterizar absoluta falta de ‘gravitas’ e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”.

O capitão-presidente não desconhece apenas isso, excelência. Ele desconhece o que está fazendo no Palácio do Planalto, o que faz um presidente da República e como se comportar como tal. Tem mentalidade de vereador de vilazinha perdida no interior, com alguns lampejos do pior que aprendeu na academia militar. Falta-lhe traquejo, raciocínio e contenção verbal. Mas tem poder – e é aí que mora o perigo.

Nesse cenário, o filho nº 01, o senador Flávio Bolsonaro e o nº 02, deputado Eduardo Bolsonaro, têm direito de nomear 113 pessoas no Congresso, o que gera uma folha de pagamento de quase R$ 1 milhão por mês. Como ambos ocupam cargos na estrutura do parlamento – Flávio é terceiro secretário do Senado e Eduardo é líder do PSL e presidente da Comissão de Relações Exteriores – possuem a prerrogativa de preencher vagas além das disponíveis nos seus gabinetes pessoais. Do total, 24 desses cargos têm salários acima de R$ 20 mil. O filho nº 03, Carlucho, é vereador na Assembleia do Rio de Janeiro, por onde já passou Flávio e seu assessor favorito, Fabrício Queiroz, o especialista na “rachadinha”.

Queiroz, aliás, era (ou continua sendo) o corretor dessas nomeações. Em recente declaração, revelou que “tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado… Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente caía bem, pra c…, caía bem pra c… Não precisa vincular a um nome”.

Como é sabido, o Messias reformado ganhou a eleição sem fazer campanha, sem participar de entrevistas e debates, sem mostrar quem era. O que se sabia dele, não o recomendava. Mas as lambanças e as safadezas do PT e a desilusão com Lula & cia. levaram-no ao trono. Coisas semelhantes já haviam ocorrido, anteriormente, com Jânio Quadros e com o “caçador de marajás” Collor de Mello. E deu no que deu, como está dando agora. Infelizmente, o eleitor brasileiro tem memória curta e deixa-se enganar com facilidade.

O meu querido Rubem Alves, em poucas palavras, dizia verdades eternas. Para ele, o povo dificilmente pensa, é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. E, por isso, segue sempre os falsos profetas, gosta de mentiras, porque as mentiras são doces e a verdade, amarga.

Até onde iremos com Jair Messias Bolsonaro e a sua trinca de fedelhos não se sabe. Para o jurista Miguel Reale Jr., um dos subscritores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o capitão-presidente “está beirando” ao menos uma das hipóteses legais para a abertura de outro processo de destituição do presidente. Segundo ele, a lei determina que “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” é um dos crimes de responsabilidade pelos quais um presidente pode ser afastado. E argumenta: “O que está havendo é uma somatória de fatos dessa natureza que atingem a sensibilidade das pessoas e os valores fundamentais da Constituição. A partir do momento que ele é a favor do trabalho infantil, quer reduzir a punição para o trabalho escravo ou que os presos tenham trabalho forçado, Bolsonaro vai contra os valores fundamentais da República. Isso é quebra o decoro”.

P.S. – Outra indagação: até quanto Sérgio Moro continuará servindo essa gente? Até afundar com o barco que já faz água? Será que ele ainda acredita no capitão e nas suas promessas de apoio. Até a ingenuidade tem limite.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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