O conde do estábulo

Arthur Lira, presidente da câmara dos deputados, chiou com a posse envergonhada e quase clandestina dos ministros que obrigou Lula a nomear. Queria foguetório e festa, não para celebrar os afilhados, mas a si mesmo como condestável* da república. Lira dispensa a faixa presidencial, mas sem votos na eleição geral, extrai do poder benefícios sem responsabilidade. Graças a isso limita-se a chantagear Lula, que teme sofrer impeachment – o que é sempre possível, vide os precedentes, possíveis porque os presidentes não cediam aos apetites do Congresso ou não tinham sócios por lá. A posse envergonhada prova que a Lula resta algum pudor.

Na história política os condestáveis eram os nobres responsáveis pelos cavalos dos reis absolutos (de condes dos estábulos), época em que os cavalos e a cavalaria eram símbolos de poder. Isso dava-lhes proximidade e influência sobre o soberano, razão porque a palavra perdeu a ontologia e atravessou os séculos para identificar, já nas repúblicas, os auxiliares influentes e poderosos. No Brasil republicano, governo Hermes da Fonseca, o senador Pinheiro Machado, gaúcho e general da Revolução Federalista, ficou conhecido como condestável e foi decisivo na derrota de Rui Barbosa como candidato à presidência da República. Morreu apunhalado na rua.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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