Barrados no banquete

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Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – O governo prometeu “cortar na carne”, mas ofereceu filé mignon a 200 deputados para aprovar a PEC do teto de gastos. Antes de servir o banquete, Michel Temer disse que está “fazendo história” e que movimentos contra a proposta “não podem ser admitidos”. A imodéstia do presidente parece um bom motivo para ouvir quem se opõe ao texto.

Um estudo do Ipea, instituto ligado ao Ministério do Planejamento, sustenta que a PEC causará danos profundos ao sistema público de saúde. Os pesquisadores Fabiola Vieira e Rodrigo Benevides afirmam que o setor perderá até R$ 743 bilhões se as despesas forem congeladas por 20 anos, como deseja o Planalto.

Para os autores, o plano usa o “pressuposto equivocado de que os recursos públicos para a saúde já estão em níveis adequados”. Não estão. Em 2013, o gasto brasileiro foi de US$ 591 per capita. Isso equivale a metade do argentino (US$ 1.167) e a um sétimo do americano (US$ 4.307).

O estudo mostra que a despesa do Brasil com saúde se mantém estável há 15 anos, na casa de 1,7% do PIB. Com o congelamento, deverá encolher para até 1%.

Ao apresentar o plano, o Planalto ignorou problemas como o envelhecimento da população. A participação dos idosos deve saltar de 12,1% para 21,5% nas próximas duas décadas. Isso aumentará a pressão sobre o SUS e elevará gastos com doenças como diabetes e hipertensão.

O presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Mauro Junqueira, diz que o congelamento vai agravar as filas nos hospitais e castigar os mais pobres -que não foram convidados para o banquete no Alvorada.

Ele está inconformado com o discurso governista de que protestar contra a PEC é “ser contra o Brasil”. “Isso não é uma luta partidária. É uma luta em defesa do SUS”, afirma. O secretário atua em São Lourenço (MG), município administrado pelo PSDB.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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