Bolsonaro e seu governo onde é difícil trabalhar a sério

Como já se sabe, Jair Bolsonaro começou a manhã desta quinta-feira com a notícia da Polícia Federal vasculhando o gabinete de seu líder do governo, senador Fernando Bezerra, do MDB de Pernambuco. Com autorização do STF, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão contra a liderança do governo no Senado, no gabinete no Congresso e nas casas dele em Brasília e Recife. Ele foi alvo da operação Desintegração.

Bezerra foi ministro da Integração Nacional, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O esquema criminoso de pagamento de propinas pagas por empreiteiras teria ocorrido entre 2012 e 2014.  Na decisão que autorizou as buscas, o ministro Luis Roberto Barroso diz que Bezerra e um filho teriam recebido um total de R$ 7 milhões. Barroso também autorizou o interrogatório do líder do governo Bolsonaro e de seu filho.

Logo cedo, Bolsonaro convocou auxiliares para uma reunião de avaliação da operação policial. Segundo o que se diz, o presidente ainda estava em dúvida sobre a saída de Bezerra da liderança. O site O Antagonista noticiou que na avaliação de interlocutores de Bolsonaro a eventual saída de Bezerra da liderança do governo no Senado “seria uma perda significativa para o Palácio do Planalto”. Bem, este é o tipo de dúvida para o qual só dá para fazer piada. Que deixem Bezerra na liderança. Um senador que acaba de sofrer uma ação da PF é de fato o líder ideal para um governo como este.

Mas o problema de Bolsonaro não é apenas a saída do político pernambucano suspeito de corrupção pesada, mas quem colocar em seu lugar. Onyx Lorenzoni e Davi Alcolumbre avaliam que ficou difícil a permanência do senador emedebista no cargo, mas ambos disseram à revista Crusoé que existe dificuldade de encontrar um substituto.

Na minha opinião, essa dificuldade de substituição de pessoas é hoje em dia um problema grave do governo Bolsonaro como um todo. No Senado, a bancada do PSL está em crise, com Flávio Bolsonaro desunindo a bancada em vez de trabalhar para fortalecer a base política do pai. Ele destratou aos berros a senadora Selma Arruda, que trocou o PSL pelo Podemos. O primogênito de Bolsonaro brigou até com o senador Major Olímpio, que teve votação histórica em São Paulo. “Que se dane se é filho do presidente”, disse o senador. Segundo Major Olímpio, a presença de Flávio no partido dá “muita vergonha a nós”.

Qual seria o político disposto a encarar a liderança do governo neste ambiente de completa cizânia estimulada pelo próprio filho do presidente da República? E a complicação é ainda maior. Já pensaram que bacana entrar no lugar de um colega que acaba de ser acossado pela Política Federal e o MP? E isso em um ano pré-eleitoral.

O governo de Jair Bolsonaro está numa condição precária já no primeiro ano do mandato. É geral a dificuldade de encontrar gente qualificada para encarar pepinos. Não é só no Legislativo. Passada uma semana da demissão de Marcos Cintra da Receita Federal, o ministro Paulo Guedes ainda não anunciou um substituto. E do modo que ocorreu a demissão de Cintra, em repetição da humilhação pública feita por Bolsonaro com Joaquim Levy, fica mesmo difícil encontrar alguém qualificado que arrisque sua imagem profissional. Em época de desemprego generalizado, quem é bom de serviço nem quer saber de vaga no governo Bolsonaro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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