Buraco da Fechadura, de Nelson Rodrigues

Montagem dirigida por Rafael Camargo resgata a obra do dramaturgo para falar do humano e suas contradições. Foto de Leonardo Pimentel

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino).” Nelson Rodrigues

Para comemorar os 100 anos de Nelson Rodrigues, um dos mais importantes ícones da dramaturgia brasileira e universal, surge Buraco da fechadura. A peça, com direção de Rafael Camargo, estreia no dia 1º de agosto e faz parte de uma série de eventos que estão sendo programados para a abertura do Portão Cultural, antigo Centro Cultural do Portão. O projeto é resultado da parceria entre as companhias Rumo e Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio.

Da força natural, bruta e viva da obra do mais influente dramaturgo do Brasil, a montagem emerge a partir da compilação de alguns contos de “A vida como ele é”: O MonstroA dama do Lotação, Caça Dotes, Missa de Sangue,Veneno e Unidos na Vida e na Morte. Unindo fragmentados diálogos e as mais inusitadas situações, o diretor paranaense desenha através de um olhar particular o universo rodriguiano.

Limite, doença, paixão, força vital, sexo, culpa e medo. Na montagem, o humano e suas contradições convivem simultaneamente num caleidoscópio de experiências que traduzem o que somos capazes de ser, revelando o que não é permitido revelar. Tomados por sentimentos potencialmente incontroláveis, em estado febril, os personagens assumem o papel de pessoas próximas. Somos nós mesmos em situações limite, socialmente repreensíveis.

Como moldura, o buraco da fechadura. O silêncio e o respirar anônimo e ofegante do lado de cá inquieta tanto quanto o que acontece lá dentro. Em vários depoimentos, Nelson Rodrigues fala sobre este olhar: algo como espreitar, ver sem ser visto. O que não era para ser visto, o que era pra ficar entre quatro paredes, ou no máximo em família. Afinal, é sempre bom lembrar: às vezes estamos aqui, outras estamos lá.

Ficha técnica: da obra de Nelson Rodrigues – Adaptação, Dramaturgia e Direção: Rafael Camargo. Elenco: Adriano Petermann, Diego Marchioro, Marcel Griten, Martina Gallarza, Rosana Stavis e Pagu Leal. Cenografia: Maria Baptista e Gabriel Gallarza. Cenotécnico: Alfredo Gomes Filho. Figurino: Paulo Vinícius. Direção Musical: Leonardo Pimentel. Trilha Sonora: Leonardo Pimentel e Guilherme Miúdo. Iluminação: Beto Bruel. Realização: Rumo e Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio.

Serviço: Teatro Antônio Carlos Kraide – Portão Cultural. Avenida República Argentina, 3430, Água Verde – Telefone: 41. 3229 4458 e 41. 9876 3596. De 1º a 26 de agosto. Quarta-feira às 17h e 20h. Quinta a sábado às 20h e domingo às 18h. Ingressos: Quartas: 1 kg de alimento não perecível. Quinta a domingo – R$ 10 e R$ 5.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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