Cadeia para os corruptos?

A sociedade não ganha nada encarcerando pessoas que não representem perigo físico a outros cidadãos

Nunca achei que a cadeia fosse lugar para Lula e fico feliz que ele tenha sido solto. Daí não decorre que o considere inocente. Não dá para aceitar como ético o comportamento do líder político que, com forte influência sobre o governo, aceita de empreiteiros presentes no valor de várias centenas de milhares de reais. Se a lei não inibe esse tipo de atitude, é a lei que está errada.

Meu ponto é que o sistema de Justiça precisa ser capaz de identificar situações como essa e dar-lhes uma resposta jurídica, na forma de condenações. Não creio, porém, que a restrição da liberdade seja a pena adequada para casos de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência ou qualquer outro crime cuja execução não envolva o uso ou a ameaça de violência.

A sociedade não ganha nada encarcerando pessoas que não representem perigo físico a outros cidadãos. Mas, se a minha tese é verdadeira, como acho que é, por que tanta gente fica indignada à simples menção da ideia de que corruptos (e traficantes, estelionatários etc.) não devem ir para a

Um dos problemas mais graves com os quais grupos que dependem da cooperação entre seus membros precisam lidar é o dos “free-riders”, isto é, as pessoas que tentam usufruir dos bens públicos sem dar a sua cota de contribuição. A forma que a evolução encontrou para resolver isso foi instilar em nós uma forte propensão emocional para punir aqueles que identificamos como violadores das normas sociais.

Não dá para dizer que não deu certo. O medo de sofrer sanções do grupo é um dos vetores que levaram à autodomesticação humana, fazendo de nossa espécie uma das mais autocontidas e menos violentas entre os primatas sociais.

É necessário seguir nessa rota civilizacional, o que, no estágio em que nos encontramos, significa refrear nossos impulsos instintivos para abraçar soluções mais racionais, mesmo que pareçam, à primeira vista, fracas demais.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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