Carlos Bolsonaro, o pequeno príncipe

Vagabundo, imbecil, putinha, putaria, idiota comedor de alfafa, bostas goeludos, porca, canalha, boçal, partido de pirocas.

O latim de Carlos Bolsonaro é vasto e crescente. Segundo filho do primeiro casamento do presidente, vereador mais jovem da história do país, reeleito para o quinto mandato, nome mais votado para o cargo no Rio (sendo o único a ultrapassar a marca de 100 mil votos), ele agora está licenciado de fazer o que já não vinha fazendo: verear.

Ocupa-se de exibir dotes vocabulares no Twitter, não necessariamente apenas na conta pessoal. Não são palavras ao vento, nem nunca foram. Quem um dia achou que o governo Bolsonaro não tinha estratégia já está a rever sua crença.

Construída por Carlos Bolsonaro, a comunicação presidencial é uma área que vai incrivelmente bem se comparada às lambanças Esplanada afora. Caso a régua de eficácia seja o objetivo direto dela, o que o 02 tem conseguido até agora deve ser definido como um grande sucesso.

O que ele procura é ocupar o espaço e interditar qualquer debate que não lhe interesse. Deixar a oposição sem chão. Testar águas e mandar recados a um custo mais baixo do que o da tinta da caneta presidencial.

Para isso, modula o tom de modo a recuperar a atenção quando percebe que o truque está a ponto de se esgotar. Como acaba de fazer no desfile de 7 de Setembro. Reapareceu ao lado do pai dois dias antes de abrir fogo contra as vias democráticas. Mobilizou assim ministros do STF e a cúpula do Congresso e ocupou manchetes dos jornais.

O pequeno príncipe de Exupéry transmitia ensinamentos desenhando uma jiboia comendo um elefante —os adultos pensavam que se tratasse de um chapéu. Carlos Bolsonaro é apenas um vereador do Rio que diz não ter ambição de poder. Ele se atrapalha com a conjugação verbal, mas também deixa sua lição: “Nunca esqueçamos que diâmetro e profundidade só é critério de competência para alguns”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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