Carta à redação – Vale a pena ver de novo

Orlando Pedroso, autorretrato

Senhores, acredito que todas as vezes que há cortes dentro da Redação, algumas dezenas de mensagens desaforadas devam chegar à caixa de emails da direção. Não será o caso desta. Gostaria de compartilhar uma historinha que sempre conto em minhas palestras.

Comecei na folha no início de 1985. Meses depois, num desses pescoções intermináveis, recebi um texto de economia para ilustrar. Quatro da manhã, morto de cansaço, querendo ir pra casa, li um texto do qual não entendi absolutamente nada. Não tive dúvidas. Risquei qualquer coisa, mandei pra fotomecânica e caí fora.

No dia seguinte recebo um telefonema do Jairzinho dizendo que o Otávio queria uma explicação para o desenho que havia feito. Dei uma explicação randômica para algo que, na verdade, era inexplicável. Horas depois, o telefone toca de novo e é o mesmo Jair dizendo que a explicação deveria vir por escrito. De novo gastei meu verbo tentando achar algo que fizesse sentido e mandei para a direção. Fatalmente o telefonema do dia seguinte era um Jair dizendo que o Otávio queria falar comigo e à tarde estava lá eu na ante-sala da direção esperando ser atendido.

Muito educado, Otávio elogiou meu trabalho na Folha, disse que vinha acompanhando mas que gostaria de dizer uma coisa: a Folha não é um jornal de escola. Esse fato norteou meu comportamento profissional dali pra frente. Eu tinha que perceber que publicava algo que milhares de pessoas iriam ver, que minha assinatura estava ali e que o primeiro a respeitar isso deveria ser eu mesmo.

Nesses quase 27 anos de colaboração com a Folha foi assim que agi dentro e fora da redação, com respeito ao leitor. Muitos de nós se tornaram jornalistas ou ilustradores por conta dos abramos, Francis, Fortunas, Marizas e Angelis que a Folha soube, durante muito tempo, valorizar. Eu mesmo decidi me tornar um ilustrador de imprensa pelos desenhos maravilhosos que via nos jornais e revistas e que enchiam os olhos de leitores e garotos curiosos como eu.

Tudo muito diferente do amadorismo publicado hoje apesar dos esforços hercúleos da editoria de arte. Mediocridade gera mediocridade, infelizmente. No Brasil onde o financeiro é quem faz a edição de arte, Steinberg passaria fome…

Muitos projetos gráficos depois, chegamos onde estamos e eu espero, sinceramente, que a Folha não seja nem se torne, como parece hoje, um jornal de escola onde qualquer coisa mediana mas barata está bom demais. Abraços, Orlando Pedroso

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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