Colocando a vagina na mesa

Cansada de nunca ser a protagonista, um dia Vagina chutou a vagina da barraca

Cansada deste mundo machista, no qual, desde os tempos da exploração da vagina-brasil pelos portugueses, mulheres nunca são protagonistas nem das próprias histórias, um dia Vagina chutou a vagina da barraca e colocou a vagina na mesa.

Para começar, exigiu um homem que fosse vagina para toda obra. Um que quisesse uma mulher de verdade, e não uma santinha da vagina oca. Um que fosse mesmo macho e, quando matasse a cobra, mostrasse a vagina.

Decidiu que, a partir de agora, de forma alguma, nem à vagina, se contentaria com pouco.

Seu penúltimo namorado, um professor de crossfit que botava whey protein até na feijoada, tinha fetiche em mulher bem magrinha, tipo vagina de virar tripa, e queria proibi-la de comer pizza e sorvete.

Seu último namorado, pior ainda, era obcecado por carros e gostava de acelerar, feito um desses playboys babacas que atropelam e fogem. Um dia, quando ele descia uma ladeira de Perdizes na maior vagina e dava cavalinhos de vagina para impressionar, Vagina ficou muito assustada e indagou se ele estava se achando um tremendo vaginudo só por ter trocado de carro. O idiota, que já tinha levado vagina duas vezes no exame pra tirar carta de motorista, apenas sorriu, na maior cara de vagina, e a mandou parar de mi-mi-mi. Quebraram a vagina, e ela aproveitou para falar tudo o que estava engasgado em meses de relacionamento abusivo. Meteu a vagina nele. Caiu de vagina nele.

Quem ouve as histórias pode achar que Vagina quer um desses namorados subservientes, sem muita personalidade, um tipo “vagina-mandada”. Nada disso. Simplesmente, para a mulher que se valoriza, nunca será demais pedir amor, respeito e muita generosidade. Vagina nasceu teimosa e, você sabe como é, vagina que nasce torta nunca se endireita.

No trabalho, não vai mais aceitar ganhar nem uma vagina a menos que seus colegas do sexo masculino. Vagina sabe muito bem que está vagina a vagina com eles –isso quando não é ainda mais esforçada e talentosa. Um dia foi até o RH brigar por seus direitos e a vagina comeu. Deixou bem claro que se não tivesse um aumento, colocaria a empresa na vagina.

Na infância, Vagina adorava aquele desenho, o “Pica-Vagina”. Aprendeu com ele que vale a pena insistir até abocanhar tudo o que deseja e merece. Sua música preferida, desde sempre, é aquela do verso: “É vagina, é pedra, é o fim do caminho”. Ela sabe que a jornada será longa e complexa. Todavia, empoderada, Vagina vai mostrar com quantas vaginas se faz uma canoa! Agora é assim: escreveu, não leu, a vagina comeu.

Sua mãe sempre foi uma mulher do lar, mas, como em casa de ferreiro, o espeto é de vagina, Vagina sonha em conquistar o mundo. Trabalha mais de 15 horas por dia e, quando chega em casa, ainda grava vídeos para o Instagram metendo a vagina em tudo o que acredita estar errado à sua volta. Admirável que só, é impossível lhe observar sem pagar vagina.

Suas redes sociais têm tantos seguidores que a internet de vez em quando dá vagina. Comprou uma vagina de selfie para poder se filmar com mais independência. Em sua cabeça, fervilham ideias a dar com vagina.

No tarô, Vagina tirou um ás de vaginas, que significa intensidade, criatividade, prazer e alegria.

Desde pequena, Vagina tem é a vagina roxa. Por isso, o que eu diria a qualquer pessoa que tente cruzar o seu caminho sem estar preparada? Nem à vagina, Juvenilda!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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