O Natal é como um quadro de Jackson Pollock: cada um interpreta à sua maneira. Para os apolíneos, por exemplo, Natal é o coletivo de caloria. As feministas veem a noite natalina como uma festa porco chauvinista em que só se exalta o peru. E assim por diante. Mas há algo que iguala uma ceia de Natal para todos: ela normalmente é um porre. Seja no sentido figurado, seja no alcoólico. Como não existe hepatoprotetor para a ocasião, vão aqui algumas dicas de como deixar o evento, dentro do possível, mais divertido.

24 — Levar um peru vivo para a ceia e, ao lado dele, discursar sobre a violência praticada contra animais.

23 — A cada 60 segundos, dar um estalo com a língua e anunciar a todos: “faltam X minutos para a meia-noite. Vem aí o Natal!”

22 — Denunciar que o Santa Claus que está distribuindo presentes às crianças na sala na verdade é o padrinho da sua sobrinha.

21 — Manter o copo daquele tio bebum sempre cheio para que ele comece a discursar e a quebrar taças e pratos.

20 — Enfiar a mão na abertura do recheio do peru e, usando-o como uma marionete, fazer um teatrinho para as crianças.

19 — Chamar os familiares para darem-se as mãos, fechar os olhos e rezar. Depois de alguns segundos simular que está “recebendo” o vovô.

18 — Vestir-se de Papai Noel, adentrar na sala da árvore de Natal fumando e com uma garrafa de Corote debaixo do braço.

17 — Ler uma parábola, no meio dela fingir que está emocionadíssimo, e atirar-se no chão em prantos.

16 — Ficar perguntando a cada 10 segundos: “e a rabanada, e a rabanada, e a rabanada?

15 — Revelar à meninada que Papai Noel nunca existiu e é apenas um artifício do sistema para aumentar os lucros dos capitalistas.

14 — No meio da ceia comentar que os perus são todos alimentados com restos de lixo atômico.

13 — Simular um ataque apoplético quando faltar um minuto para a meia-noite.

12 — Ao dar as características do seu amigo secreto para os outros tentarem adivinhar quem é, descrevê-lo (a) como uma pessoa racista, homofóbica e egóica.

11 — Ao receber seu presente do amigo secreto revelar a todos que já tem vários iguais àquele.

9 — Presentear o dono da casa com um pôster do Romero Britto.

10 — Levar um Kazoo e ficar solando, durante todo o jantar, “Noite Feliz”.

9 — Após a ceia deixar rolando, em looping, nas caixinhas de som, “Então é Natal”, com Simone. Colocar uma senha no celular para que ninguém troque de faixa.

8 — Perguntar do nada: “essa carne vermelha aí é tender ou uma perna humana assada?”

7 — Abocanhar um punhado de farofa rica do peru e pronunciar, de boca aberta, a palavra “Massachusetts.”

6 — Puxar discussões sobre política, futebol e lutas identitárias à mesa. Quando o bicho começar a pegar entre os comensais chamar um Uber e sair à francesa.

5 — Morder uma pururuca da leitoa e, em seguida, cuspir o pedaço na mesa gritando, enojado: “agh, eu não como esse bicho imundo!”

4 — Vestir-se inteiro de azul e cantar “Lady Laura” no karaokê da TV.

3 —Voltar a perguntar a cada 10 segundos: “e a rabanada, e a rabanada, e a rabanada?

2 — Fazer tradução simultânea, à la cerimônia do Oscar, da Missa do Galo em latim.

1 — Informar quantas calorias têm cada uma das gordas guloseimas da ceia natalina.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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