“Curitiba Vestida de Noiva”

O dia 17 de julho de 1975 seria marcante para Amanda, uma curitibana de 20 anos que ia se casar às 20h30 na Igreja Santa Teresinha.

O dia 17 de julho de 1975 ficaria marcado para sempre na memória de todos os curitibanos que ao acordarem viram a cidade coberta com um véu branco, como uma noiva.

Aquele dia foi cheio para Amanda: já de manhã bem cedo tinha que ir atelier da costureira (Dona Cotinha, na Água Verde) para provar o vestido, o véu e a grinalda; tinha que fazer as unhas, a maquiagem, o cabelo; tinha que conferir se tudo estava certo no Buffet do Restaurante Madalosso; etc… etc…

Mas, nevou

A cidade enlouqueceu e todo mundo virou criança ou palhaço. Todos queriam tirar fotografias e mais fotografias e a Ótica Boa Vista, na Praça Osório, ficou lotada de gente querendo comprar filmes para suas máquinas fotográficas. Todo mundo fez um boneco de neve. Todo mundo saiu de carro. Todo mundo ria muito.

Na hora marcada – 20:30h – lá estava ela – Amanda – vestida de noiva, linda, na porta da Igreja Santa Teresinha, no Batel, ao lado de sua mãe. Lá estavam as primas, as amigas, a Laurinha que ia ser a daminha de honra e levar as alianças até o altar. Lá estavam os padrinhos e as madrinhas, as tias, as vizinhas, as alunas dela lá da Academia de dança, todo mundo estava lá. Mas, o noivo – o Alex – bem na horinha, antes de entrar na igreja, jogou o cigarro no chão e sumiu-se correndo feito um louco. Ele e um amigo dele – o Marquito – lá do futebol.

Ninguém sabe o que deu telha dele. Saiu assim, correndo e sumiu-se o noivo. E ela ficou lá – com cara de trouxa – na frente de todo mundo.

Vexame

No outro dia até saiu na Gazeta do Povo, sem dó nem piedade, na coluna do Dino Almeida:Noiva largada no altar! Noivo deu no pé na hora da cerimônia.

Isto aconteceu há 37 anos

Hoje, Amanda, (nome que vem do latim e que ironicamente quer dizer: “mulher digna de ser amada”) é uma mulher de 57 anos que ainda traz a cicatriz daquele dia na memória.

A peça teatral de autoria de Enéas Lour, um dos mais premiados dramaturgos e diretores curitibanos, fala dessa e de outras cicatrizes da alma de Amanda. No elenco a atriz Cláudia Minini, além da participação – em vídeo – de um casal de atores do mais alto gabarito de nosso teatro: Luiz Carlos Pazello e Sílvia Monteiro. A iluminação está a cargo do premiadíssimo Beto Bruel (03 Prêmios Shell de Iluminação e 26 Troféus Gralha Azul) e a sonoplastia é de Célio Savi.

Com duração de 50 minutos e mesclando a linguagem do humor-patético e a linguagem poética, o espetáculo aborda temas como a solidão, a frustração e a superação, as opções que a personagem teve que adotar em função daquele trauma acontecido há 37 anos.

As transformações ocorridas em nossa cidade nesses 37 anos também são focadas na peça. Aquela Curitiba provinciana, de pouco mais de 500 mil habitantes em 1975 já não é, evidentemente, a mesma. O mundo mudou. Mas, as cicatrizes são para sempre. Não são parecidas com pegadas na neve, por exemplo, tão fugazes, tão efêmeras, e que logo desaparecem.

Serviço: Curitiba Vestida de Noiva. Espetáculo solo de Cláudia Minini. Texto e direção de Enéas Lour. Estréia 19 de abril de 2012. Teatro Barracão Encena (Rua 13 de maio, 160, centro)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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