Damares

Essa Damares – aquela do “menino deve vestir azul e menina, rosa” – escolhida pelo capitão-presidente para ministrar a Mulher, a Família e os Direitos Humanos no Brasil, é uma pessoa estranha. A começar pelo nome. Nasceu no Paraná, mas, aos seis anos, mudou-se para o Nordeste, dividindo-se entre a Bahia, Alagoas e Sergipe. Advogada e pastora evangélica, foi, durante algum tempo, assessora do então senador Magno Malta, outra figura folclórica – o que explica muita coisa. Na semana passada, sentiu-se mal e foi internada em um hospital de Brasília. Diagnóstico médico: pressão do cargo que ocupa.

O problema de Damares é que, cada vez que ela abre a boca, sai uma besteira. A mais recente: a sugestão para que a educação sexual nas escolas inclua a abstinência sexual. Segundo ela, o jovem, ao adiar a primeira relação sexual, evita doenças como o HIV…

Recentemente, Damares esteve em Buenos Aires e, em entrevista à BBC News Brasil, depois de anunciar estar à procura de um novo relacionamento afetivo, entrou na área dos desenhos animados exibidos no cinema e na TV

– Eu sou educadora e como educadora sempre questionei o excesso da exposição das crianças ao desenho animado. Por exemplo, Tio Patinhas, 40 anos atrás, eu era muito jovem e eu já questionava o Tio Patinhas com aquele consumo exagerado, do dinheiro pelo dinheiro, pela riqueza, né. Depois, teve uma época que eu fui estudar o Pica-Pau. Para mim, o Pica-Pau é um desenho, hoje, ele é bonzinho diante do que tem aí. Mas naquela época era um desenho agressivo, ele é um personagem violento. Ele é um personagem arrogante, é um personagem egoísta. Eu questionava a caracterização do Pica-Pau. E depois o Popeye e a Olivia e o Brutus, e como eles lutavam por aquela mulher. Ela era esticada, ela era um objeto e eu questionei tudo aquilo naquela época. Mas aí veio a Frozen, no momento em que falo da ideologia de gênero. Pra mim, é o desenho mais lindo que assisti nos últimos tempos. Assisti 50 vezes, eu canto a música, eu choro. A princesinha conquistou o mundo e tem menininhas de dois ou três anos que amam Frozen. Eu amo Frozen. Eu sou uma velha que chora com desenho animado…

Pobre Tio Patinhas, rico e ganancioso – consumista, desculpe-me, dona Damares, ele nunca foi nem será; pobre Pica-Pau, hoje regenerado; pobres Popeye, Brutus e Olívia, ela magrinha e tão esticada pelos dois primeiros… Felizmente, aí surgiu Frozen, que encantou dona Damares, ainda que a faça chorar… de emoção.

Sabe, ministra Damares, essas figurinhas citadas por v. exª. são apenas inocentes personagens da tela, do vídeo e dos quadrinhos. Não existem na vida real, nem mesmo a sua querida Frozen, dos Estúdios Disney. Foram criadas apenas para distrair a piazada (de todas as idades). Por isso, não lhe devem causar sofrimento. Olívia, por exemplo, ainda que raquítica e desajeitada, adorava ser disputada pelo mocinho Popeye e pelo vilão Brutus. A ganância e a usura do Trio Patinhas, a violência, a arrogância e o egoismo do Pica-Pau e as desavenças de Popeye e Brutus eram e ainda são pura ficção. Aí estava a graça ou a tristeza, que acabava na cena ou no quadrinho final.

Deve haver coisas mais sérias em vosso ministério para causar-lhe preocupação. Se não houver, dedique-se de corpo e alma à procura do desejado novo relacionamento amoroso. Muito provavelmente, é essa carência que lhe está fazendo mal.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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