Desormônios

Segundo a ciência, chega uma hora na vida – aquela hora em que a gente começa a usar essa expressão – que o metabolismo começa a racionar os combustíveis vitais. As glândulas recebem telefonemas das farmácias dizendo que podem resolver as tarefas por elas, e elas se aposentam aqui e ali no organismo. O que a ciência omite é que, a partir de uma idade, o próprio corpo, para se adaptar à ordem natural das coisas (vulgo degeneração), passa a processar outras substâncias desumanas.

Vamos ao delivery interno: primeiro, se é tomado por irritagina e implicancina, que afetam a sociabilidade. Ainda há chance de reagir, se não aparecer o desconfiogon. Aí é melhor evitar as multidões. Para produzir a apatia, o desmotivol e a conformina entram a mil na corrente sanguínea, paralisando pernas e braços, que vão agir em combinação com adiasina, e você deixa tudo pra depois. É uma situação propícia para acumulação de altos teores de comodismônio e sofatrona, que fixam o sujeito da porta pra dentro.

Com o tempo, o cérebro cede e de lá jorram fluidos amargurogênicos, com efeitos azedumetróficos. Então, assim condicionados, dos testículos e dos ovários brota a desinteresexona, com níveis mais elevados ao anoitecer e picos justamente na posição horizontal. Já sem compensações, o corpo sucumbe e é inevitável uma overdose de morticidrina. Quer dizer, a endocrinologia está devendo um comentário sobre esse quadro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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