Deu a louca no pomar

As frutas ameaçam azedar o governo de Bolsonaro

É bom saber que, num país com 52 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza, as pessoas poderão morrer de tédio, mas não de fome. A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, declarou outro dia que o sustento do brasileiro está garantido porque nossas cidades abundam de pés de manga —dessas que provavelmente dão o ano inteiro, estão ao alcance de qualquer braço e podem ser chupadas ao pé da árvore, usando-se o chafariz mais próximo para lavar a deliciosa lambança que produzem. 

E depois nos perguntamos por que o presidente Bolsonaro vive atravessando a rua para escorregar em cascas de banana. Uma pessoa que escolhe esse tipo de auxiliares não tem alternativa. Vide outra ministra, Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que disse ter visto Jesus Cristo empoleirado numa goiabeira. Imagine, 2.000 anos de cristianismo ignoravam que Ele comia goiabas. Infelizmente, essa revelação parece equivaler às jabuticabas conceituais do presidente, como a de que o nazismo era de esquerda —um conceito, assim como a jabuticaba, só existente no Brasil.

Bolsonaro, que imaginou a Presidência como uma Festa da Uva, com degustação de vinhos, corso alegórico e eleição de rainha, já deve estar convencido de que a cana é doce, mas não é mole, não. Aprendeu isto ao ter de descascar um abacaxi que ele próprio plantou ao brigar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. E agora terá de se explicar sobre outro ministro, Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, cujo cultivo de laranjas pode ser apenas a cereja do bolo em suas supostas marmeladas.

Em vez de sentar e administrar o país, Bolsonaro passa o dia vendo melancias por toda parte, verdes por fora e vermelhas por dentro. Nessa batida, não demora a que seus eleitores, desapontados, sintam no ar um aroma de morangos mofados. 

Tudo isso está carambolando em seu governo. Deu a louca no pomar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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