Diário da Crise LIII

Terminou hoje a novela dos exames de Bolsonaro. Foram negativos para o coronavírus. Felizmente acabou a novela. Todos ganharam. Bolsonaro pode dizer que foi perseguido injustamente, pois sempre disse a verdade. O Estadão pode reafirmar a tese de que a saúde de um presidente é uma questão de estado: não deve ser vista sob o ângulo de direito à privacidade.

Continua entretanto a novela do vídeo. Esta novela só termina quando o vídeo for exibido. Muitos vão extrair conclusões diferentes. Mas a conclusão que importa é a do Procurador Geral da República. Compete a ele, denunciar ou não Bolsonaro.

O Ministro da Saúde está na corda bamba. As razões são as de sempre, quase as mesmas que derrubaram Mandetta: abertura precoce, cloroquina. Nas redes sociais bolsonaristas já há um clamor pela sua demissão. Ao contrário de Mandetta nem a opinião pública antibolsonaro ele conseguiu seduzir.

As tramas envolvendo Bolsonaro ainda dominam a cena. Mesmo aqui, algumas pessoas me censuram por ser brando na crítica. Outras ficam bravas porque são a favor de Bolsonaro.

Se achasse Bolsonaro o centro do mundo já  teria me candidatado para essas expedições a Marte. Alguns acham que sou oposicão a Bolsonaro porque trabalho na Globo, onde exibo meus documentários. Sou da oposicão desde que me entendo por gente.

Hoje o sol nos abandonou. Não completamente. Na televisão perguntaram pelo gato que sempre aparece quando faço comentários. É o Nino.

Ultimamente ele está buscando lugares mais quentes para dormir. Costuma aparecer no jornal das seis. Mas hoje ele enrolou o pescoço numa sacola de papel, correu alvoroçado e com o susto se escondeu. Ele deve ter sentido aquele barulho como se o mundo estivesse caindo na sua cabeça.

Pela manhã entrevistei, junto com outros, um jurista sobre lockdown. Lembrei que medidas restritivas em crises sanitárias são quase sempre contestadas, em nome da liberdade individual. Foi assim na Revolta da Vacina, em 1904, na Revolta das Máscaras nos EUA durante a gripe espanhola, e está sendo assim agora.

Ele lembrou que as leis são para salvar vidas e mencionou a vacina obrigatória. Não tive tempo de contestar, mas a vacina obrigatória  despertou um movimento de desobediência em vários paises do mundo. Sobrevive até hoje.

O New York Times publica uma excelente reportagem sobre a pandemia na América do Sul. Estamos sendo muito atingidos, sem a mesma repercussão das tragédias na Europa e Estados Unidos.

A reportagem destaca três paises: Brasil, Peru e Equador. No Cone Sul a pandemia é mais branda. Não temos condições de impor um lockdown e manter em casa pessoas que não têm como ficar amontoadas em cômodos pequenos e úmidos: vamos sofrer muito.

Hoje li no Estadão que a pandemia está dificultando o diagnóstico e tratamento de 50 mil casos de câncer. Nem todos os hospitais estão cheios. Mas há medo de buscar tratamento e contrair o covid 19.

São tempos muito difíceis. Amanhã às 18h conversarei sobre eles com o Embaixador Marcos Azambuja, numa live do CEBRI, Centro Brasileiro de Relações Exteriores. Partilhamos de um senso de humor mesmo em situações tão terriveis como essa. O titulo é:  A tempestade perfeita. Fiz um artigo sintetizando minha intervenção inicial. Sai sexta feira no Estadão. O debate mesmo, só  aqui no Diário, para quem não teve tempo de assistí-lo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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