Dietas do verão

Dieta francesa: “Troque sua refeição por um Marlborão”, diz o poeta Jacques Prévert. Substitua a salada por um Free, o sushi por um cigarro mentolado, o queijo fedorento por um Derby com o mesmo odor e a carne vermelha pelo Marlboro da mesma cor. Quando sentir falta de um doce, você pode fumar um Gudang de canela.

Dieta espanhola: a base desse regime são os tapas. A cada guloseima que você comer, toma um tapão na fuça.

Dieta mesolítica. Evolução da dieta paleolítica: você só pode comer animais que você mesmo caçou, de preferência congelados. Nos grandes centros urbanos, você terá que se alimentar de pombos.

Dieta da morte. Morrer é uma ótima maneira de perder 21 gramas. Não é nada, não é nada, mas faz a diferença na hora de entrar naquele jeans. “Ah, mas você vai estar morta, por que quer entrar numa calça?”, dirá uma amiga, certamente recalcada. “Late mais alto, que daqui debaixo da terra eu não te escuto.

Dieta alcooréxica. O importante é evitar sólidos. Quando quiser um filé, tome um vinho tinto. Frango, vinho branco. Troque o sushi: saquê. Na falta de doce, vinho do Porto. Quando quiser água, evite. Prefira cachaça.

Dieta esdrúxula. Coma apenas coisas que rimam com cóccix.

Dieta do YouTube. Você pode comer o que quiser, desde que coma enquanto assiste a um documentário sobre a maneira como aquilo foi produzido. Coma um filé enquanto vê “A Carne É Fraca”, tente almoçar um frango enquanto vê “Linha de Desmontagem”, um doce enquanto vê “Fed Up”. Fica o desafio.

Dieta do signo. Se você é de Áries, alimente-se apenas de carneiro. Peixes, de peixes. Capricórnio, de cabra. Câncer, caranguejo. Aquário, missoshiru. Leoninos costumam passar fome. Mas ficam ma-cér-ri-mos.

Dieta inglesa: contrate um cozinheiro inglês. Depois do feijão doce no café da manhã, você costuma perder o gosto pela comida de modo geral.

Dieta da intoxicação. Se você tiver sorte, um camarão na praia pode te fazer perder dez quilos. Evite lugares recém-visitados pela vigilância sanitária e prefira produtos que não se encontram na região. Devore uma ostra em Brasília, um acarajé em Cuiabá. Se bater aquela vontade de maionese, verifique se a mesma foi exposta por horas ao sol de Bangu.

Dieta da Gol. Mude-se para um avião da Gol. Pode ter certeza de que você vai comer muito pouco, a não ser que você queira desembolsar R$ 12 por um pão dormido.

gregorioduvivier

Gregorio Duviver – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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