Dilma e o atoleiro nacional

Dilma-2A pior coisa que pode acontecer para quem escreve para o público é não ser entendido. Um colunista de jornal ou de blog nunca terá a plena concordância do leitor. E isso é bom. Opiniões são dadas para ser lidas, pensadas, aceitas ou contestadas. E aí quem escreve terá atingido o seu objetivo. “Toda a unanimidade é burra”, já dizia Nelson Rodrigues. “Não é preciso estar de acordo para ser amigo”, acrescentava Rubem Alves. Mas a incompreensão é uma tristeza.

Na última semana, saí em defesa da “presidenta” Dilma. Defesa? Em termos. O objetivo era apontar o principal culpado da situação em que se encontra o país. O criador da criatura. Aquele que achou que Dilma poderia governar o Brasil só porque ele queria. Como uma espécie de mandato-tampão, para manter aquecido o trono presidencial até a volta triunfal dele, em quatro ou oito anos. Mas não permitiu que ela governasse. Manteve-a cercada de incapazes e de mal-intencionados e cuidou para que continuasse a ação da quadrilha que, colocada dentro da Petrobras, saqueava a Nação e garantia o custeio do grande projeto de poder do PT e das siglas de aluguel que lhe são aliadas. E, ainda por cima, fez questão de vazar para a mídia que estava perdendo a paciência com Dilma. Era só o que faltava!

Há muita ironia no texto de quinta-feira passada. O problema é que ela nem sempre é percebida pelo leitor. Luís Fernando Veríssimo diz que quase apanhou por causa da ironia. Por não haver entendido que o cronista tinha se valido de boa dose de sarcasmo, o leitor achou que ele estava por merecer um corretivo. No meu caso, não se chegou a tanto. Mas alguns integrantes do Grupo dos 15 – universo de piedosos leitores destes escritos, como se sabe – sentiram-se decepcionados, para dizer o mínimo.

Alguns acharam que eu enlouquecera. Outros, chegaram a sentir pena da pobre Dilma. Erraram nas duas hipóteses. Não compreenderam o que estava nas linhas que eu escrevi. Nem nas entrelinhas. Lamento.

 É claro que não havia apenas ironia nos escritos referidos. É claro que – como 84% dos brasileiros, segundo o Datafolha, o mais respeitado instituto de pesquisa da opinião público deste país – eu acho que a “presidenta” sabia da corrupção dentro da Petrobras. Lula, então, nem se fala – foi um dos artífices da tramoia. Dos que votaram em Dilma, de acordo com o instituto, 74% estão convencidos da ciência da “presidenta”. É muita gente.

 O Datafolha vai além e anuncia que “é majoritária a parcela dos que acreditam que a petista, além de ter conhecimento do esquema, deixava que ele operasse livremente”. Dos entrevistados, 61% acham que ela deixou que a coisa ocorresse livremente, enquanto 23% afirmam que, apesar de saber, Dilma “não poderia fazer nada” para impedir.

Poderia sim, e não apenas deixar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal funcionarem. Isso é obrigação dela e função deles. Se não fez, é porque não quis ou não a deixaram fazer – o que dá na mesma. E, por isso, tem responsabilidade na conduta criminosa e coisas para explicar.

Ainda a Folha de S. Paulo, edição de domingo, confirma o que todo mundo alfabetizado sabia, menos o Juca Kfoury e a maioria cabeça-dura petista: não foi só a elite branca que foi para as ruas no dia 15 e passou a bater panelas sempre que a “presidenta” deita falação pela TV. O jornal paulista constatou que, entre os caminhantes, havia ex-petistas, ex-votantes de Dilma e especialmente a classe média desiludida, desesperançada e exasperada com tantos desmandos.

O que aquele mundaréu queria (e quer) não era (e não é) o impeachment da “presidenta”. E muito menos a retomada do poder pelos militares – que é coisa daquele “maluco que toda família esconde no porão”, como detectou o nosso Dante Mendonça. Nem mesmo ganhar uma discussão quer o povo – pontuou o notável José Roberto Guzzo. O que o povo quer são o fim da safadeza e melhorias concretas na vida nacional. Em outras palavras, que a “presidenta” aja, faça valer o mandato que recebeu pela segunda vez, cumpra o que prometeu em campanha e deixe de ser refém do seu criador/mentor e do PMDB e assemelhados, que a estão apequenando e destruindo.

Se fizer isso, poderá contar com a população – que não é aquela que sai às ruas mediante remuneração e que veste vermelho e agita bandeiras da mesma cor sem a menor consciência do que está fazendo.

Ruim com Dilma, muito pior sem ela e com o PT de João Pedro Stedile, João Vaccari Neto, Marco Aurélio Garcia, Franklin Martins e do líder José Guimarães, irmão de Genuíno e cujo assessor foi apanhado, algum tempo atrás, com dólares na cueca, ou com o PMDB de Temer, Sarney e Renan. Com os milicos, então, nem pensar. No tempo deles, para quem não sabe, também havia corrupção – e muita –, além de violência, truculência, injustiça, desaparecimentos, matança e total falta de liberdade.

 Espero ter-me feito entender desta vez.

Célio Heitor Guimarães|Blog do Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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