Divisão do Piauí: sequer supor a iníqua hipótese!

A propósito, de frente para o meu aparelho de TV, vi a Cidade Verde (a mais séria Televisão do Piauí) presentear a “Terra Querida”, no seu próprio dia, com um debate sobre a possível divisão do Piauí. Nunca pensei viver para ver uma coisa dessas. Carlos Lacerda dizia sobre Getúlio em 1952: “O Sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato, sendo candidato não deve ser eleito, sendo eleito não deve tomar posse e tomando posse não devemos deixá-lo governar.” Sobre a divisão do Piauí refaço-me na paródia pródiga e trágica: Não devemos supor essa hipótese, supondo-a não devemos permitir manipulações de opinião, havendo-a temos que derrotar a monstruosa proposta e no caso de sermos vencidos, pegar em armas e lutar até as últimas consequências para impedir a absurda, enganadora, vil, cruel, cretina, oportunista, impatriótica e criminosa injúria cujo resultado imediato além do golpe fatal na nossa auto estima, será a depauperação, ainda maior, das duas regiões.

Divisão do Piauí: sequer supor a iníqua hipótese! Mais ainda: ouvi o próprio governador do Estado do Piaui defender a tese de um outro estado, alheio ao resíduo histórico e ao amor a terra , elemento de cujo o valor deveria ser o representante maior, símbolo humano visível do todo, da posse emocional e da verve psicológica que menos faz amar igualmente tanto o Delta do Parnaíba como a Serra da Capivara, tanto a histórica Piracuruca quanto à singular corrente do Parnaguá. Essa diferença, que culturalmente não existe, além de não ser critério não é impedimento cabível para o esforço de juntos unidos íntegros, inteiros perseguirmos nosso destino que há de chegar, mas enquanto o Piaui sonha em ser e tornar-se, seus políticos querem ter e obter. Está muito claro a gana de quem quer iludir uma população presumivelmente desassistida e angariar espaço para uma condição temível, um projeto temível de consequências inevitáveis e igualmente temíveis.

O grande problema do sul, seu isolamento geográfico, perde sentido com as facilidades tecnológicas da comunicação globalizada, e o despovoamento, a baixa densidade demográfica, será ainda um desafio a ser enfrentado por muito tempo e não solucionando com um simples desmembramento. Quando muito se fala que os maiores investimentos até agora foram feitos no norte falta-se com a verdade. No sul estão concentrados os maiores esforços e recursos.As maiores obras fisicas: a barragem da boa esperança,o parque da capivara, as maiores e melhores estradas as mais extensas redes de eletrificação rural, as plantações de soja, as fronteiras agrícolas e os demarcadas áreas extensas de preservação.Grandes cidades estão plantadas no Sul e a delimitação geográfica com suas fronteiras  naturais , não artificiais que nos foram presenteadas pela extensão do rio Parnaíba de mais ou menos 1200 km  separando o Piaui imenso de norte a sul  do Maranhão tal qual imenso e a  majestosa serra da Ibiapaba fronteira natural com o Ceará a leste. Ainda na cidade de Picos, uma das paisagens mais bonitas deste semi árido nordestino, a Serra do Araripe nasce despretensiosa, quase imperceptível, para mais adiante cautelosa se transformar na chapada dominada por florestas e caindo nas beiras do cariri Cearense e Pernambucano, delimitando os três estados em socavões nostálgicos, desses que, só de ver, o incapaz vira poeta.

A nossa história nos origina inteiro. nossa geografia concedeu inteira a nossa feição e os nossos limites, nossa sofrida existência marcada por três séculos de humilhação pública diante dos outros de nós mesmos, nossa historiografia cheia de vácuos mal explicados nos concedeu a situação peculiar dessa territoriedade inteira. No momento em que estamos acordando para a nossa identidade dispersa e vaga. nos empurram de goela abaixo o golpe desta sensação artificial que descamba para uma fronteira artificial, do surgimento de um estado artificial, forjada numa diferença artificial. É o que a sociologia chama de ” necessidades falsas”,de que outrora muito nos falou o Professor Mangabeira Unger. O casuísmo das legislações viciadas e o oportunismos daqueles que não sabem amar, não tem compaixão, não tem pena nem piedade, nem responsabilidade nem noção do futuro, nem diferenciam o bem do mal. Enxergam as oportunidades das vantagens imediatas, por elas desvalam até nos perigos dos ódios étnicos, religiosos e político ideológicos, ranços históricos de que o Brasil até agora ainda não havia sido acometido, importados caldos sociológicos de outras culturas. Essas supostas “necessidades falsas” surgem ante esses interesses torpes que pulam a vista e patrulham qualquer outro valor humano ético, religioso, tradicional, poético, humano, sábio, sóbrio, enfim tudo o que não seja o dinheiro, hoje muito bem representado pelo dinheiro fácil das benesses e prerrogativas dos cargos públicos.

É patético e cínico , sei que o adjetivo é forte mas não consigo encontrar outro. Recordo a fala de Ariano Suassuna tão respeitado e respeitável num excepcional encontro que tivemos em Teresina. Na ocasião ao comentar minha opinião de que o ex- líder comunista Roberto Freire sustentava uma visão equivocada sobre as perspectivas políticas do Brasil, o mestre foi enfático: ” Não é equívoco não, é safadeza mesmo!” Tem horas que o discurso radical tem que ser a única possível investida justa e honesta diante da ambição sem limites dessa gente, pois o maior argumento de quem pretende desmembrar o Piauí, subtrair nosso território sagrado e tolher a mais rica esperança da região do sul, a perspectiva , o argumento pueril, canalha e simplista é o aumento do FPE ( Fundo de participação dos Estados). Mas é engraçado que numa reforma tributária justa ninguém pensa, e se pensa, não demonstra um esboço de luta.

Lembro aos tecnocratas divisionistas que o PIB pode ser um valor técnico mas não é um valor ético.

A estrutura burocrática a ser criada  num possível novo estado do Gurguéia consumiria quase um bilhão de reais, uma farra institucional  disposta aos aproveitadores de plantão que agora além de se beneficiar aqui vão também se beneficiar lá e no Piaui divido ou não,ou num futuro Estado do Gurgueia, o sol nascerá pra todos mas a farra de um bom cargo publico é para os mesmos.

Há uma sentença do inevitável. Vem do fundo da alma do indignado defensor das  causas perdidas, aquele pessimista que, apavorado com a eficácia com que as coisas, em geral, pioram e sempre atento ao fato de que o que está ruim ainda pode piorar mais, clama revoltado: dividam, continuem dividindo, criando factóides para multiplicar acomodações políticas e manter e ampliar privilégios, daqui a pouco teremos mais vereadores que eleitores.

João Cláudio Moreno – setembro|2011
(Enviado por Joca Oeiras)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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