E a Avenida Jamil Snege?

Caminhando, dia desses, hábito antigo, a paisagem de meu arrabalde, na fronteira entre Boa Vista e Tingui, topei, não sem surpresa, com uma viela ligando o nada a coisa nenhuma. Busquei a placa: Rua Mário Bittencourt! Menos de uma quadra e meia de extensão. Suponho se trate de homenagem acanhada, mas homenagem, a um dos nossos mais famosos apresentadores televisivos, o saudoso Mário Bittencourt.

Pontual, por décadas, no noticiário – local – que antecedia o Jornal Nacional, na RPC, o sempre simpático Mário nos deu, por anos a fio, as notícias estaduais do dia, aquele tempo em que até noite de autógrafos era anunciada em horário nobre. Hoje ele é apenas o nome de uma ruazinha aqui do bairro. Inexpressiva, secundária.

Sigo os meus arranjos pedestres, misturo coisas, lembro de outras tantas.

Não há melhor oportunidade para o devaneio do que nestas caminhadas que faço, eu e Deus, sob o céu que nos protege, nos entardeceres de Curitiba. E nisto lembrei Paulo Leminski e aquele tempo em que, jovens céticos e rebelados, indagávamos do futuro o que seria de nós.

Dizia o eterno Lema que, mortos, seríamos um beco esbarrancado do Xaxim, e que nos contentássemos com isso. Deu sorte o Polaco: virou um dos mais badalados espaços curitibanos – a Pedreira Paulo Leminski. Muito a propósito: por que Aeroporto Afonso Pena? Nenhum paranaense de estirpe para nomeá-lo? César Lattes, por exemplo, um dos maiores cientistas mundiais, em todos os tempos, ou mesmo os grandes poetas do passado – Emiliano, Emílio. Lattes nem nome de rua é em Curitiba.

Temos uma das câmaras de vereadores mais ignorantes do Brasil. Uma gente insensível, incapaz de oferecer um título de cidadão honorário da cidade a quem efetivamente merece. Nomes ilustres, que fizeram Curitiba, embora nascidos aqui, no interior do Estado ou fora dele, morreram sem um aceno sequer da pobre vereança araucariana.

O caso mais flagrante é o do escritor, poeta e publicitário Jamil Snege – o maior de nossa geração -, nascido e criado no Água Verde. Morto há quase 6 anos até agora não mereceu sequer o nome de uma travessa perdida no Capão da Imbuia.

Já imploramos à edilidade que homenageie à altura Jamil Snege, dando a ele, quem sabe, o nome de uma das inúmeras avenidas que sairão da Linha Verde. Já apelamos ao prefeito Beto Richa, um homem sensível, que faça algum esforço nesse sentido. Até agora só o silêncio.

O mesmo silêncio de minhas caminhadas vespertinas pelo bairro onde cresci, e já nele dobro o Cabo da Boa Esperança, a topar com uma ruela que nem tenho certeza se homenageia mesmo o apresentador Mário Bittencourt, ou um seu homônimo…

(12|4|2009)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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