É muita areia para o caminhãozinho dele

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Poucas vezes a parábola bíblica “Diga-me com quem andas e te direi quem és!” se mostrou tão verdadeira como na atual Brasília de Michel Temer. Com pequena adequação à presente temporada: “Diga-me de quem te cercas e te direi quem és!”.

Michel recebeu a presidência de bandeja. Dilma e a corte petista trocaram os pés pelas mãos e foram defenestradas do Palácio do Planalto. Temer estava na boca de espera. Lépido e formoso, Carta Magna na mão, assumiu o posto. Mas, tirante a musa Marcela, trouxe junto o que havia de pior no PMDB ou manteve-se ao lado dessa turma – figurinhas carimbadas da velha política brasileira, gente afundada na suspeição, com vida pregressa sem maior recomendação. Sentiu-se seguro para governar com ela. Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Renan Calheiros. Correligionários capazes de derrubar qualquer governo. E Michel, que tinha tudo para notabilizar-se como o higienizador da pátria estremecida pela corrupção desvairada e falta de comando administrativo-financeiro, revelou-se, nos primeiros oito meses de atividade, não apenas um governo já envelhecido, mas com muito pouco futuro.

Eu disse aqui na semana passada e repito: falta autoridade no país. Não autoridade de farsantes violentos e arbitrários, gorilas fardados, que tanto mal já fizeram ao Brasil. Mas autoridade de lideranças firmes, probas e bem intencionadas, que conquistem o apoio e a admiração da população por ações concretas, decentes e eficientes – iguais às atualmente desenvolvidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Magistratura em operações como a Lava Jato, da República de Curitiba.

Não estou lançando a candidatura do delegado Daiello, dos procuradores Dallagnol e Carlos Fernando e muito menos do juiz Sérgio Moro ao comando da Nação. Mas eles são ótimos exemplos. Provas de que ainda existem pessoas dignas, honradas, competentes, eficientes e cumpridoras do dever, que visam o bem do Brasil e oferecem resultados.

O que não se pode mais admitir é que saia governo, entre governo e as práticas nefastas, imundas e canalhas permaneçam vigendo.

“Temer é o que temos” – conforma-se o faraó Fernando Henrique Cardoso e até já registrei eu. Nem por isso, no entanto, precisamos afundar no lodo com ele. Temer revelou-se um governante fraco, mal acompanhado e refém de quadrilhas que dominam o Congresso Nacional.

Um exemplo: a tentativa safada de anistiar os antigos bandidos do Caixa 2. Repousa entre deputados e senadores, fingindo-se de morta, para reaparecer a qualquer hora a todo vapor. Michel avisou que, se passar no parlamento, veta a patifaria. Conversa. Não tem cacife para tanto. Se não vetar, o país o enterra; se vetar, perde o apoio parlamentar e acaba o governo.

O mesmo se repetirá quanto ao anteprojeto de lei anticorrupção desfigurado pela ação calhorda dos ilustres senhores deputados federais na madrugada desta quarta-feira.

Reafirmo: Michel Temer tinha tudo para inscrever o seu nome na História do Brasil – ainda que necessário fosse esquecer parte de seu passado político. Infelizmente, sua conduta no poder, mostra que não tem estatura para tanto. E não me refiro, é óbvio, à baixa altura física dele. É um homem afável, elegante, fala corretamente, adora mesóclises. Mas tem dito (e feito) bobagens inadmissíveis. Como quando afirmou, na segunda-feira, em alto e bom tom, que o Brasil carece de instituições firmes – esquecendo-se de que foram essas instituições que o levaram e tem mantido no trono. Ou então – pior ainda – quando encampou, como presidente, pretensão particular, malandra e descabida do amigo Geddel, pressionando subalterno do primeiro escalão do governo a agir ao arrepio da lei.

É uma pena, mas, ao que tudo indica, Michelzinho não terá orgulho do pai como presidente do Brasil. Célio Heitor Guimarães

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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