Eleições para prefeitos e vereadores

O Brasil chega a trinta e três partidos políticos. Cada partido é uma máquina cujos donos não abrem mão de mandar e desmandar em prol de seus interesses. As siglas são como famílias monárquicas para comandar o estado brasileiro.

O fundo partidário este ano é de 2 bilhões de reais. A distribuição varia de 201 milhões a 1 milhão de reais para cada um destes afortunados. Parcela considerável dos partidos tem inconfessáveis interesses religiosos, outra parcela são verdadeiras famílias e a maioria representa interesses de grupos econômicos.

A escolha de candidatos é uma trama que antecede as convenções que são meramente para sacramentar o que os caciques partidários decidiram. Quem tem a chave do cofre?

Normalmente, os tesoureiros que pagam publicitários, e mais modernamente as empresas de tecnologia para distribuir propaganda digital e fake news.

Há caixa dois? Ninguém admite abertamente isto, seja pelas divisões de salários dos funcionários ocupantes de cargos em comissão, seja pela fraude em licitações com a desculpa de que a mala de dinheiro irá para as campanhas eleitorais.

Nas cidades brasileiras, os grandes orçamentos são para as licitações de transportes públicos e para a coleta de lixo. O transporte público é coalhado de denuncias e sua qualidade está muito aquém do que é regiamente subsidiado pelos cofres públicos.

A coleta de lixo é outra falácia, há no Brasil 3 mil lixões espalhados por mil e seiscentas cidades. O que esperar das campanhas eleitorais? Nada.

O povo nas eleições é um inocente útil, vota, elege e entrega a representatividade, que é um cheque em branco, para os donos do poder. Diferente de algumas democracias no mundo, o autoritarismo à brasileira cresce a passos largos, nunca o discurso pela ditadura foi tão presente

Há um desencanto pelas falácias das políticas públicas, pela malversação dos recursos e pelos escândalos que se tornaram rotineiros. Neste cenário, crescem os discursos por acabar com tudo, que nada presta e que o estado deve ser demolido, entregue para a iniciativa privada.

Na pandemia as populações se aperceberam o quanto o Estado é vital para a sociedade, seja pelos hospitais públicos, pela educação, pela pesquisa científica, por organizar a economia e zelar pelos orçamentos.

Não temos no Brasil a possibilidade jurídica das candidaturas avulsas, isto é, daqueles que rejeitam os conchavos partidários e poderiam se lançar candidatos sem sigla partidária.

Também não temos a rechamada, que acontece quando políticos fazem justamente o contrário do que foram eleitos e o povo volta a se manifestar sobre a sua imediata saída. O voto obrigatório fere a liberdade de não participar.

O povo não decide quem serão os candidatos nos partidos pois é uma escolha entre a seleta de candidatos aparentados e afiliados dos patrões políticos.

Durante o mandato não há democracia direta, nem plebiscitos nem referendos nem escolhas dos temas que o povo poderia propor na mesa política, apesar dos avançados meios digitais de que dispomos na atualidade.

O povo é o provedor dos recursos por meio dos tributos e é cada vez mais espoliado pelo sistema econômico concentrador de renda e distribuidor privilégios aos bancos e corporações.

Neste cenário, a centenária drenagem de recursos, os filhos da classe média brasileira estão fugindo para o exterior, diante da insegurança pública e do crescimento da pobreza estrutural.

As eleições se sucedem e muito pouco se altera na estrutura social brasileira, são ritos de passagem para a continuidade do caos no qual mergulhou o Brasil. Não há planejamento, nem projeto. Os discursos são moldados pelas pesquisas de opinião.

Vota-se por carisma, simpatia, beleza ou outro motivo qualquer que os publicitários sabem identificar muito bem. Em resumo, temos uma democracia sem povo e sem fins públicos. Ruim com ela, pior sem ela.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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