#elenão

Se Michelle já pode fazer campanha, começo a minha

Difícil imaginar que por trás de um homem desprezível haja uma mulher muito diferente. Se ela permanece firme ao seu lado, diante de horrores ditos e praticados talvez seja conivente ou, no mínimo, uma sonsa insensível.

Então, por que Michelle Bolsonaro seria diferente de Jair, com quem é casada há 14 anos?

O presidente quer usar a mulher como cabo eleitoral para tentar reverter a rejeição que sofre entre o eleitorado feminino.

Teve quatro anos para se preocupar com a imagem que já era péssima em 2018, quando 49% das mulheres disseram quer não votariam em Jair de “jeito nenhum”, segundo o Datafolha. Entre os homens, o índice era de 38%.

O desprezo só piorou. Na pesquisa divulgada em março, 60% das entrevistadas não querem saber de sua reeleição. Bolsonaro acha que vai amansar as eleitoras, escalando a senhora Jair para dar feliz Dia das Mães em rede nacional?

Fora o crime eleitoral, que o TSE segue fingindo que não vê, o presidente mostra o que já sabemos: é um sujeito desinteressado e refratário às demandas femininas, que ele abomina porque considera assuntos de esquerda.

Igualdade salarial, direitos reprodutivos, fim da violência doméstica são bandeiras que guiarão a agenda política e já têm impacto nos processos eleitorais por causa da participação cada vez maior de mulheres jovens e solteiras. O político que não percebeu que precisa dar respostas a esse público vai ficar pelo caminho.

Não adianta a Michelle “que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta” surgir na TV falando de flores, quando o marido chafurda na misoginia.

Para ele, a filha foi uma fraquejada, diz que não estupra porque a mulher não merece, diz que igualdade salarial prejudica a contratação feminina, acena para o turismo sexual ao deixar à vontade quem quiser sexo com brasileiras. E faz piada sobre política de distribuição de absorventes: “mulher começou a menstruar no meu governo”.

Se Michelle já pode fazer campanha, começo a minha: #elenão.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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