Elles

EllesellesElles é um registro sobre prostituição de estudantes universitárias de Paris em uma versão de revista feminina. Além disso, a forma como o tema foi abordado levou simultaneamente ao foco da sexualidade do homem casado. Esse enviesamento é interessante porque o roteiro é assinado por duas mulheres, inclusive a diretora, Malgorzata Szumowska. Uma explicação para esse viés seria a terceira protagonista, a jornalista interpretada por Juliette Binoche, que vive problemas conjugais e familiares e tem sua vida sexual alterada com esse trabalho. Para os fãs da atriz francesa, vale a pena conferir o seu desempenho.

Os segredos da prostituição em “Elles”

O tema de Elles se encaixa na agenda de manifestações de mulheres como a Slutwalk, que teve início em abril de 2011 em Toronto e se espalhou no mesmo ano por cidades de vários países. Essa relação é importante porque posiciona o filme em um contexto histórico e social, embora não seja intencional. Mas, nesse longa, não se trata de uma defesa ou afirmação da prostituição; ao contrário, as garotas administram vidas duplas, mantendo a atividade de prostituta escondida de namorados e parentes.

A forma como Szumowska apresenta o tema tem algumas passagens semelhantes a um documentário, já que as garotas são entrevistadas pela jornalista Anne (Juliette Binoche, de Cópia Fiel). Lola (Charlotte, Anaïs Demoustier) e Alicja (Joanna Kulig) responderão a perguntas do tipo “como foi a primeira vez”, “como são os clientes”, “por que se prostituem” etc.

As respostas são recebidas por Anne com certa imparcialidade, sem que haja julgamentos. No entanto, o que se delineia é um filme ao estilo da revista Elle, com um pouco menos de glamour. Não há um aprofundamento na questão da prostituição, quase não há espaço para o lado negativo da atividade e mesmo a sexualidade feminina acaba sendo revelada em função da masculina. Isso acontece porque as práticas sexuais trazidas nas entrevistas estão muito ligadas ao cliente, “como ele é”, “do que gosta”, como se a entrevistadora quisesse resolver a relação com seu marido.

Encadeamentos narrativos são base do filme da diretora Malgorzata Szumowska. Elles pode apresentar uma dificuldade, entender a montagem das cenas. O resumo do filme é simples: a jornalista vai fazer entrevistas para um artigo da revista Elle sobre prostituição, envolve-se com as garotas e muda sua vida pessoal. Mas às vezes é difícil acompanhar o encadeamento de um dia na vida familiar de Anne com as duas entrevistas e as cenas que retratam os relatos de Lola e Alicja. Além disso, a trama é aberta e há espaço para interpretações em algumas passagens. Deixar que a audiência preencha lacunas não é um problema, na verdade é bastante produtivo. No entanto, às vezes o encadeamento das cenas pareceu aleatório e isso dificulta um pouco a compreensão da sequência dos eventos.

Um outro aspecto do filme que pode ser destacado diz respeito à trilha musical: a personagem descabelada de Juliette Binoche escuta uma rádio de música clássica. Assim, o longa contava com música na própria cena. Quando isso não acontecia, podia aparecer algo bonito como o segundo movimento da sétima sinfonia de Beethoven durante um programa de Lola. Enfim, o melhor do filme é que algumas cenas com interpretações de Binoche são memoráveis.

França, Polônia, Alemanha – 2011. Direção: Malgorzata Szumowska. Roteiro: Malgorzata Szumowska, Tine Byrckel. Elenco: Juliette Binoche, Anaïs Demoustier, Joanna Kulig. Estreia: 20 de julho.

Angela Gomes

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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