Entusiasmo: agitação interior ou serpentes no estômago

Um atropelo dos espíritos de fogo, escada acima, desde o estômago até o cérebro e vice-versa, de roldão escada abaixo. E lá vamos nós perdendo os pés do chão. Quanto mais forte o arrebatamento, mais se dilatam nossas pupilas. O melhor do entusiasmo é quando contagia os que estão por perto. E uma onda de contrações estomacais conjuntas faz vibrar o ar, agitar as nuvens. O grito é quase irreprimível e as efusões de sorrisos e de abraços torna o ambiente dançante e colorido. Onde foi parar? Sim, onde foi parar o entusiasmo? Sabe o que Goethe disse? Mas é outro assunto… Não importa. Goethe disse que um grande homem é exatamente igual aos outros, exceto que tem maiores virtudes e maiores defeitos. Diz Somerset Maugham que o poeta estava falando dele mesmo.

E com razão. E agora, sim, voltando ao assunto, digo poucos homens no mundo foram tão entusiasmados como Goethe. Em tudo o que fazia, botava alma e coração, além de uma boa dose de cérebro. Ele podia ser exemplo para que a gente redescobrisse as delícias de um estado de espírito que faz o sangue dar pinotes nas veias e de cada gota de Sol, um paraíso inteiro. Em 1832, Goethe estava com 74 anos e viúvo. Um pouco adoentado foi para a estação de águas de Marienbad (lembra do filme L’année dernière au Marienbad, de Alain Resnais? Não tem nada a ver com o assunto aqui, mas é uma pulsante lembrança.) O poeta chegou lá e enamorou-se de uma garota graciosa e fascinante de 17 anos chamada Ulrique von Leventzov. Ele a cativou totalmente e pediu-a em casamento: ela aceitou. Mas a mãe da garota foi contra, como sempre, e estragou a paixão. Tirou dele o que seria seu último entusiasmo viril. Ele se retirou e foi passear e conversar com Eckermann até morrer em 22 de março daquele ano, pedindo ‘mais luz’. Ou, mehr Licht!  Eckermann registrou tudo e lançou o livro Conversations with Goethe, que é outro ponto alto do entusiasmo humano. Será que te entusiasmei um pouco?

Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem Bobo Nem Nada. Já tem para empréstimo na Biblioteca Pública do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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