Epístola aos sodomitas e gomorritas

HOJE O DOMINGO PEDE CACHIMBO, seria bom relaxar. Difícil, este que vos grafa, por exemplo, acordou crente que era segunda-feira: de pé desde as 5:30, preparou-se com a pompa e a circunstância exigidas, conferiu a folhinha e a previsão do tempo. Pensou, ‘estranho que não tem barulho de trânsito, estranho que a previsão do tempo não dá o resultado da segunda’. Deixou passar, desatenção de quem mal acordou. Na rua, seguiu na estranheza até que o raro passante informou o dia certo.

O engano só pode ter uma causa: o brasileiro vive em sobressalto; até os que se fingem felizes com o momento do país. Todo dia tem que ser útil. E nos domingos não há como relaxar. Tem os jornais, a televisão e os malucos das redes sociais a nos atormentar com notícias falsas e deturpadas. Todo dia a mesma agonia, o Capitão presidente e seus ministros atribulados – o bedel de pais e mães, a fofoqueira da goiabeira e o maluco que debita ao asfalto o aquecimento global.

Se a primeira dama puxar o marido para o culto, ele dirá, em libras e reais, que os ministros do Supremo devem trocar as togas pretas pelas batas brancas do batismo evangélico. A Constituição, substituída pela Bíblia – nem toda, só o livro do Levítico, duro e implacável. Ele – ELE? – irá ameaçar com dilúvio, a morte dos primogênitos GLBTT+A e o fogo purificador nas mãos do filho Carlos, anjo vingador, para flambar sodomitas, nativos de Sodoma, antes de assar os gomorritas, pecadores de Gomorra.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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