Exclusividade racial

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Correu o país a história da jovem Thauane, branca, 19 anos, hostilizada num ônibus em Curitiba por mulheres negras por estar, segundo estas, se apropriando da cultura afro ao usar um turbante. Thauane alegou que sofria de leucemia, e o turbante escondia sua perda de cabelo causada pela quimioterapia. Espero que, depois de recuperada, Thauane continue a usar turbante –não como um estandarte de guerra, mas por achá-lo um bonito acessório.

Bem, se até turbantes já foram convertidos em símbolos de identidade racial, vamos ter de rever tudo. No futebol, por exemplo, fica proibido aos jogadores brancos fazer gol de bicicleta, como Leonidas da Silva, cobrar falta com folha seca, como Didi, e comemorar um gol com o soco no ar, como Pelé –são exclusividades da cultura negra. Na culinária, os restaurantes não poderão mais servir feijoada, moqueca, farofa, angu, quiabo, jiló, cocada, quindim e rapadura a clientes brancos.

Lindas palavras de origem africana e há séculos incorporadas à língua brasileira, como cafuné, bunda, camundongo, xodó, zoeira, macumba, moleque, banguela, babaca, catimba, fuzuê e gandaia terão de ser abolidas do vocabulário branco. Quanto aos músicos brancos, mantenham distância do berimbau, da cuíca e do ganzá.

Aliás, a música popular será um problema. Ritmos de origem negra como o samba, o jazz, o blues, a salsa, o rap, o funk e dezenas de outros não poderão mais ser tocados em shows frequentados por brancos. E o rock, como ficará? Inventado lá atrás por negros pioneiros como Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Chuck Berry, Bo Diddley e Little Richard, quem se apropriou e enriqueceu com ele foram Elvis Presley, John Lennon, Mick Jagger, David Bowie, Eric Clapton e milhares mais.

Acho que os negros americanos deveriam pedir o rock de volta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Exclusividade racial e marcada com a tag , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.