Coisas do mundo, minha nega

Coloquei como descanso de tela no micro dois singelos versinhos meus: Se eu não escrevesse poesia/sua vida nada valeria. Pus pra rodar aleatoriamente sobre fundo azul. Só que, pra não dar muito na vista, assinei François Villon. Vira piada pra quem sabe quem foi o poeta francês cheio de histórias, que matou gente e que morreu muito novo.

Dia desses, eu estava fazendo alguma coisa fora do micro e apareceu a tela e os versos passando. Atrás de mim estava um cara da agência, olhando a tela. Ele leu e perguntou: “Por que ‘sua’ vida nada valeria? Por que não ‘minha’ vida nada valeria?” Ele completou: “Se eu não escrevesse poesia/‘minha’ vida nada valeria. Não acha?” Disse triunfante, peito estofado.

Eu, pra não entrar em detalhes terríveis diante do que ele havia dito, desconversei. Teria que explicar por que pus aqueles versinhos ali. Teria que explicar quem foi Villon. Teria que perguntar, descaradamente, o que ele achava que seria ‘correto’ e se a vida ‘dele’ valia alguma coisa. Dois simples versinhos poderiam fazer com que o cara não falasse mais comigo. Ficasse ‘de mal’. Pode?

Ele leu, pensou e achou que entendeu o que não entenderia nunca… porque logo depois não pensou mais nisso e se foi. “As coisas estão no mundo, só que é preciso aprender”, cantava Paulinho da Viola.

*Rui Werneck de Capistrano exumou esse texto pra tentar salvar os ossos

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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