Faca no museu

Exposta à visitação pública ela poderá servir de advertência para eleitores do futuro

A faca usada contra Jair Bolsonaro há um ano no comício em Juiz de Fora vai para um museu. O pedido, acatado pela Justiça Federal, foi feito pelo Ministério Público, alegando o valor histórico do objeto. E com razão —nunca uma faca foi tão importante na história do Brasil. Ela permitiu ao candidato Bolsonaro ficar à margem dos debates da campanha presidencial, o que impediu o eleitorado de se certificar de sua índole autoritária, cafajeste e anti-humana. Exposta num museu poderá ser motivo de reflexão para futuros eleitores.

Até então, a faca mais célebre da história política brasileira era a que matou o senador gaúcho Pinheiro Machado, no Rio, em 1915. Apunhalado pelas costas pelo desconhecido Manço de Paiva no saguão do Hotel dos Estrangeiros, Machado exclamou “Mataste-me, canalha!”, e caiu morto. Era o bambambã da República. Manço foi preso em flagrante, mas que fim terá levado a faca?

O paletó do pijama de Getulio Vargas, com o buraco da bala que ele disparou no coração, em 1954, pode ser visitado no Museu da República. Mas, e a calça desse pijama? Ninguém jamais viu —será que Getulio se matou sem calça? Da mesma forma, para onde terá ido a calcinha que a modelo Lilian Ramos NÃO estava usando no camarote do presidente Itamar Franco, no Sambódromo, no Carnaval de 1994?

Terá sobrevivido pelo menos uma das vassouras que apareciam magicamente nos palanques de Jânio Quadros na campanha de 1960? Era o que ele prometia fazer se fosse eleito presidente: varrer a corrupção do país. Antes as tivesse usado para sair voando. E ainda existirá um dos jet skis com que Fernando Collor, em 1990, simbolizava a arrogância e cafonice de seu governo?

Além da faca, já há outro objeto representativo do governo Bolsonaro: o exemplar da Constituição que ele jurou defender e ofende quase diariamente, à sombra das togas, das dragonas e do país.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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