Diário da crise CCCLXXV

Novo recorde de mortes no Brasil: 3780, ouço pelo rádio ao voltar para casa. Discute-se uma nota de Braga Neto defendendo a ditadura militar, que ele chama de movimento. Li um artigo contundente de Paulo Sérgio Pinheiro, grande conhecedor do tema de direitos humanos, e relator da ONU sobre o tema. Paulo Sérgio acha uma afronta aos mortos e às vítimas da ditadura militar uma nota como a de Braga.

Compartilho essa ideia, sobretudo porque houve muita tortura no período. Cnseguimos no período democrático assumir compromissos de criminalizar a tortura no Brasil. Em termos legais, estamos livres dela, embora ainda exista em nossas prisões comuns.
Costumo chamar isso da tática do Caramuru: acende um foguinho e todos se distraem e esquecem o problema principal.

Hoje, houve uma reunião desse patético comitê de crise criado por Bolsonaro. Os presidentes da Câmara e do Senado, assim como o Ministro da Saúde, pregaram o isolamento social. Bolsonaro fez um discurso mandado tudo para os ares: o Brasil precisa trabalhar, não vamos resolver nada ficando em casa.

A Inglaterra resolveu ficando em casa. A França com números muito menores que o Brasil resolveu ficar em casa a partir de sábado, 3 de abril.

Bolsonaro incita a população ao enfrentamento do vírus. Mas isso é covardia. Quando foi contaminado tinha médicos e hospitais à disposição. Hoje, mesmo as pessoas de classes mais altas, morrem à espera de uma UTI. Aconteceu com um ex-governador de Goiás, com o jornalista José Carlos Cataldi e muitos outros.

Comecei a ler um romance de Thomas Pynchon. Estou em dívida com esse autor americano, tão elogiado por alguns críticos; Vineland sua obra mais conhecida. Ando tão cansado que acho que vou deixar a leitura hoje depois do trabalho e assistir um futebol. Depois do futebol verei o documentário Seaspiracy, Mar Vermelho, sobre a pesca destruidora .

O futebol para mim tem sido educativo. A grama dos estádios é falha, a iluminação precária, os times medíocres, inclusive o Flamengo. Educativo pois digo para mim mesmo: essa é a realidade, tente se divertir ou se emocionar um pouco. Não posso compartilhar com torcedores do Flamengo pois achariam que sou muito pessimista. Mas a verdade é que às vezes o grande torcedor se esquece do bom futebol, seu barato é vencer. Sou do tempo em que o futebol era um espetáculo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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