Gozo no Zoo

O Homem, o único animal que paga motel, tem estranheza entre espécimes mas suas taras nem são tão estranhas assim: a biologia e a anatomia configuram o previsível, e os acessórios se adaptam aos instintos. É na natureza animal – e o Discovery nem ousa pôr certas cenas no ar – que está o sexo animalesco. Confira as pesquisas do Dr. Fragarowski, voyeur das entranhas zoológicas.

O macaco Simiótico (Símio teoricus volupius), natural de Java (a ilha, não o software), é o primata que mais goza, de tanto sexo que faz. Ele transa com qualquer coisa do reino animal, mesmo que não queiram transar com ele. Se atraca de surpresa com batráquios, paquidermes, aves, onde houver esfíncter ele se ajeita. Quando não há parceiro à vista, este parasita das genitálias prolonga seu pênis e transa com ele mesmo, gozando horas a fio, até a exaustão. E ainda goza com os animais que não gozam, como as pessoas casadas há muito tempo.

O urso Pando, que não é urso nem panda, é o bicho com menos libido entre aqueles menos libidinosos. Seu amadurecimento sexual começa aos 18 anos, um problemaço, já que ele vive em média uns 15 anos. Ele transa uma única vez, pois seus hormônios se esvaem totalmente no coito inaugural. O resto do tempo de vida ele consome se gabando para os demais pandos da sua trepada monumental de 30 segundos.

As aranhas Carangranjeiras, muito comum no meio rural, praticam o sexo numa rotina singular. Primeiro, as fêmeas se esfregam muito. Depois, sai cada uma pro seu lado, em busca de um macho fértil. Menorzinho, elas comem ele duas vezes: uma sexualmente e outra por via oral. Em seguida, as fêmeas se procuram novamente e aí regurgitam uma na outra, nas zonas erógenas mais peludas, somente o aparelho reprodutor do macho. E recomeça a esfregação, até fecundá-las reciprocamente.

O lamabarro, molusco ortopédico abundante nos manguezais, é considerado um privilegiado do prazer. Pra começar são hemafroditas transitórios, isto é, eles escolhem, na hora da transa, o que querem ser na vez, fêmea ou macho, o que às vezes retarda a cópula por indecisão mútua. Depois dessa preliminar que esquenta o apetite deles, os lamabarros se entregam ao ato: um deles, a fêmea da hora, se infla, infla muito, e o outro lamabarro, macho temporário duro de tesão, se enfia pela cloaca enorme e lá no útero da fêmea dá a ela orgasmos múltiplos com lambidas por dentro. Com os gemidos dela abafados pela lama, os tímpanos dele se contraem e ele jorra em êxtase. Antes que ambos murchem, se separam, elogiando a performance do outro, prometendo fazer um outro programa outro dia.

O peixe Sonso Insosso, uma rara variedade de bagre, tem um ciclo esquisito de reprodução: suas gerações se alternam entre cardumes sexuados e assexuados. Assim, quando os pares sexuados se encontram, encostam os beiços num fremir intenso contra a corrente. Excitados, expelem suas gosmas e rola a fecundação aquática etc. Nos encontros dos pares assexuados, apenas falam sobre o tempo, que em torno deles é sempre úmido.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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