Glenn Greenwald: assumindo a militância

Um ótimo efeito do afastamento da presidente Dilma Rousseff foi o desmascaramento que isso forçou em pessoas que até agora atuavam de forma camuflada no apoio ao governo do PT. São intelectuais e jornalistas que se comportavam de forma hipócrita, fingindo imparcialidade e com isso se servindo da respeitabilidade de suas profissões para disseminar seu pensamento governista. Um exemplo destacado disso é o jornalista Glenn Greenwald, do jornal britânico The Guardian e do site The Intercept, que ficou conhecido internacionalmente a partir de 2013 pela divulgação de documento fornecidos por Edward Snowden sobre espionagem do governo dos Estados Unidos.

Enquanto o PT estava no poder, Greenwald vinha se comportando de um modo que não afetava tanto sua credibilidade. Na verdade, no jornalismo fazia parte da base de apoio de intelectuais ao PT, cumprindo essa tarefa no plano internacional. É responsável com certeza pelos enganos de veículos de esquerda, como o The Guardian, quanto ao verdadeiro caráter do governo do PT. Seu jornal, o The Guardian, ainda vai lamentar a “barriga” histórica cometida na interpretação política totalmente errada sobre o que ocorreu em nosso país nesses 13 anos de poder do PT.

Greenwald podia ser definido como um “isentão” bastante influente, devido a sua forma de escrever sobre o governo do PT até há poucos meses. No entanto, com a derrocada petista ele foi perdendo o equilíbrio tático. Antes de Dilma ser afastada ele ainda mantinha algum controle, o que pode ser visto em entrevista feita com o ex-presidente Lula um pouco antes da votação do impeachment. Mas já aparentava um nervosismo na condução da entrevista com o chefão petista, na qual atravessou várias vezes o limite entre o jornalismo e a militância.

Mas agora, com o afastamento de Dilma, Greenwald passou inteiramente para o outro lado. Virou militante e do pior tipo, aquele desesperado com a perda de poder. Seus textos no The Intercept são panfletos sem credibilidade. E numa entrevista feita com Dilma e divulgada esta semana, cumpre até um papel patético, com perguntas que nada mais são do que textos elaborados para Dilma se apoiar e fazer com a maior comodidade sua defesa. Triste fim, o de um jornalista internacional que vira escada de Dilma.

Num vídeo repassado pelo seu site, pode-se vê-lo fazendo uma pergunta que nada mais é que um ataque ao governo de Michel Temer e um elogio ao que foi feito antes por Dilma. Greenwald fala até em governo “sem mulheres e negros”, essa nova ladainha petista que não pegou. O problema é que sua interlocutora é a incrível Dilma, que na resposta se enrola toda, sem conseguir desenvolver o raciocínio que o diligente militante passou a ela. É até engraçado observar seu desconforto ao perceber que o jogo verbal e político não tem como dar certo com tal parceira política. Do mesmo modo que tantos isentões estão sendo obrigados a fazer, Greenwald se revelou com esta derrocada petista. O espírito de militante quebrou a casca superficial de jornalista que era mantida por ele até agora.

José Pires – Brasil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Glenn Greenwald: assumindo a militância e marcada com a tag , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.