Greta Thunberg, a cobradora do futuro

A imagem que publico aqui é da capa da revista italiana Internazionale, de março deste ano, bem antes dos reclamos da suequinha Greta Thunberg e da meninada toda ressoar dessa forma impressionante no mundo todo, agora adquirindo o tom correto para tratar da questão ambiental, que é o da voz dos que vão arcar com as consequências do está sendo feito agora com o planeta Terra. Agora Greta está com 16 anos e nesta foto é ainda criança. Já faz tempo que a Europa vem debatendo seriamente os riscos graves que afetam nosso planeta. O aquecimento global já é mais que uma discussão teórica. O problema já se apresenta entre os europeus, com temperaturas altas que começam a afetar a agricultura e a saúde humana.

Simbolicamente, Greta é a cara dessa consciência que espero que seja avassaladora, no seu melhor sentido, como um tsunami mundial de mudança de comportamento. Quando ela e o pessoal que hoje em dia está nesta faixa de idade tiverem alcançado idade madura, por volta dos 40 anos, se algo não começar a ser feito de imediato, esses seres humanos estarão desesperados em um futuro próximo, procurando sobreviver em um planeta com problemas graves não só no meio ambiente, mas de convivência entre os povos e na administração política, econômica e da cultura do nosso mundo.

Passamos esses dias com manifestações em todo o mundo, trazendo finalmente este tom mais adequado do questionamento político, que é o clamor dos mais jovens, na cobrança da responsabilidade dos mais velhos pelo que estaremos deixando para os que estarão vivendo quando não estivermos mais por aqui. Jair Bolsonaro, como presidente do Brasil, deve discursar na ONU nesta terça-feira. No ambiente político que ele vai encontrar não será possível o encaixe de discurso algum que sequer amenize o estrago criado por ele próprio e sua equipe na sua imagem pessoal, de seu governo e na posição do Brasil em relação ao perigoso desajuste climático no mundo.

Bolsonaro não tem o que falar para resolver suas encrencas internacionais, criadas por ele mesmo. Assumiu políticas erradas em relação ao meio ambiente, aplicadas com agressividade, de forma tosca e numa incompreensão tão triste desta questão que fere até o interesse de grandes empresários da agricultura e da pecuária. Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente, além dos demais ministros e de militares da reserva que o cercam, entendem menos deste assunto que um fazendeiro focado na lucratividade. Esses, pelo menos sabem do efeito negativo internacionalmente, no aspecto político e econômico, do estrago que se faz atualmente com o meio ambiente no Brasil.

Chega a ser idiota que no ponto em que chegamos mundialmente o Brasil tenha um governo que recusa aceitar qualidades até mesmos naturais, no potencial geográfico deste nosso canto do mundo, com tantos recursos e de tanta beleza. E ainda faz isso de forma grosseira, atuando exatamente em contrariedade ao papel que pode dar ao nosso país maior relevância internacional, gerar tecnologia de altíssima procura em muitos anos à frente, podendo trazer lucratividade em vários setores da vida econômica.

Mas infelizmente este é o governo que nos coube, produto de um erro colossal que além de tudo ocorreu numa hora totalmente errada, quando o Brasil tem que obrigatoriamente tomar outro rumo, para o qual tem pouco tempo e escasseiam os recursos. Não há mais como adiar respostas exigidas em todo o mundo.

Bolsonaro errou a mão, em grande parte pelo descaminho de seguir localmente na sua toada agressiva de campanha, atuando para a porção radical, bruta e ignorante do que há de mais básico, no desconhecimento desinteligente, de que ele próprio é um espelho fiel. Em seu governo, ele fez a opção de manter o ritmo de campanha e se animou com um debate interno facilitado pela paralisação de uma sociedade civil prejudicada por um desmonte político, econômico e cultural como nunca se viu em nossa história.

Mas uma coisa é lidar com uma oposição desmobilizada e comprometida com erros graves do passado, como o PT e seus puxadinhos do tipo Psol, que além disso mantêm ligação com esquemas esquerdistas autoritários como o criminoso regime chavista da Venezuela. Outra coisa, bem diferente e que exige articulação política e capacidade intelectual muito acima dos predicados do bolsonarismo, é lidar com um debate internacional com governantes estrangeiros e uma sociedade civil aplicados com seriedade em uma questão que na atualidade não permite mais raciocínios forçadamente encaixados em lados opostos, em manipulação política oportunista e sem benefícios, a não ser para poucos.

Isto é o bolsonarismo, uma doutrina de bate-boca, sistema talvez assoprado nos ouvidos bolsonaristas pelo guru boca-suja, com seus recados de youtuber mandados de longe, da Virgínia. Será difícil para Bolsonaro encontrar palavras para expor na tribuna da ONU — onde estará, repito, por ser presidente do Brasil — aquilo que realmente seu governo pretende implantar em questões que afetam o mundo todo.

Bolsonaro nem sabe para onde quer ir, muito menos sua equipe tem a ideia de um sistema que vá além da desconstrução que é feita desde que subiram ao poder. Desmontam tudo, quebram e desconstroem, sem nenhuma preocupação em consertar o que está errado, dar continuidade ao que vinha sendo feito acertadamente e propor práticas de qualidade. O governo é da agressão e do desmonte, da destruição vazia, na hora em que o planeta mais precisa de cooperação e esforço construtivo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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