Helio Teixeira, adeus

A locomotiva parou para descansar nesta madrugada. Ela não foi construída, nasceu pronta com a energia que Deus lhe deu e o talento que desenvolveu para ser o melhor repórter do Paraná. Só posso agradecer porque tive a honra de conhecer e aprender, trabalhando junto ou não. O corpo de Helio Teixeira de Oliveira parou no início deste dia frio. Tinha apenas 65 anos e deixa órfãos aqueles que conviveram profissionalmente com ele, pois era um daqueles raros jornalistas a honrar a profissão pois ela corria junto com seu sangue nas veias. Quando se pensava que ele estava aposentado, era melhor nem pensar, pois seria uma ofensa para ele. Nascido em Palmeira, de que se orgulhava de sempre dizer que era a “cidade clima do Paraná”, tinha o diploma da Universidade Federal, mas se formou nas redações e foi o líder sem mandar, porque não precisava, era só ter sensibilidade para assimilar o seu jeito de trabalhar. Locomotiva.

Chefiou as redações da Veja em Curitiba e no Rio de Janeiro, além de ser editor do Jornal do Brasil em Brasília, no tempo em que essas publicações eram o que de melhor havia no país. Assessorou José Richa, Mario Covas, foi superintendente de Comunicação da Itaipu nas gestões de Euclides Scalco (seu grande amigo) e Jorge Samek, e agora fazia um grande trabalho na Faep. Eu o conheci em 1977, quando aqui vim cobrir férias de Milton Ivan Heller, na revista Placar, onde ele também trabalhou como correspondente. Depois ficamos juntos quando para cá vim definitivamente no ano seguinte. Do time que conheci na pequena redação da esquina das Marechais, já perdi Julio Alipío Beghetto, Pedro Franco Cruz, José Eugenio de Souza, Tereza Urban e, agora, o chefe, o guru. O pouco que aprendi sobre o que é notícia, de fato, foi com ele. O muito que aprendi de dedicação ao trabalho, foi com o Helio. Se eu tinha minhas crises para escrever um texto, ele abria as portas na lata, na hora. Certa vez tive uma reportagem devolvida pela redação de São Paulo com uma lavada de outro mestre, Carlos Maranhão. Recorri ao chefe. Ele pegou o texto, virou pelo avesso e devolvemos. Ganhei elogio que era para ele. Cansei de vê-lo socorrer um repórter que tinha ataques de epilepsia na hora do fechamento e com a reportagem apenas iniciada. A locomotiva sentava à máquina, via o que tinha sido escrito, escarafunchava os garranchos das anotações – e terminava o texto.

Começou a ler mais do que os jornais e revistas que devorava mais recentemente. Não foi por falta de literatura que produziu, junto com Pedro Franco, uma das mais reveladoras reportagens sobre Dalton Trevisan, publicada em cinco páginas da Veja. Para fazer isso, leu todos os livros publicados até então. Eu herdei feliz a coleção. Poderia ser o chefe do jornalão curitibano. Nunca pensaram nisso, infelizmente. O fato de comandar assessoria mostrou que jornalismo se faz em qualquer lugar. E quando eu precisava de algum relato da tríplice fronteira, por exemplo, bastava telefonar e vinte minutos depois recebia o texto pronto, acabado e recheado de informações.

O cigarro matou Helio Teixeira. Era um fumante compulsivo. Até nisso ensinou a lição sobre o que não fazer. Deixou um vazio que, pelo menos para mim, não será preenchido. Era casado com a Iva e tinha a Letícia e o Fernando, seus filhos que lhe deram um neto cada um, suas paixões mais recentes. Adeus, meu amigo e mestre – e obrigado por tudo.

 Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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