Lista não-exaustiva de novas parafilias catalogadas no século XXI

Alterfobiafilia

Fetichismo que consiste em obter prazer sexual em observar comportamentos e hábitos virtuais de pessoas de quem se discorda ou a quem se opõe, através das “janelas abertas” das “redes sociais”. Forma combinada de masoquismo e voyeurismo amplificados, em que o indivíduo se aproxima do cotidiano de pessoas por quem sente repulsa, e obtém prazer pela sensação de ódio. Contrário de platonifilia.

Bovinofilia

Prazer em observar gado pastando nas redes sociais.

Bolsofilia

Desdobramento da bovinofilia, prazer em observar familiares e em torno do atual presidente da república serem sodomizados, embora metaforicamente.

Catalogofilia

Distúrbio psíquico em que o indivíduo apresenta obsessão pela criação de listas de ordens diversas. Em muitos casos, o sujeito também apresenta obsessão em classificar as diferentes listas internamente, criando ranqueamentos aleatórios de fundo neurótico.

Cleptomemania

Transtorno de controle de impulsos, em que o indivíduo apresenta desejo pela apropriação indébita de produções culturais de outrem (artes ou textos originais), subtraindo registros de autoria (assinaturas ou “arrobas”) para acrescentar as suas ou ocultar conhecida origem. A ação é conhecida popularmente como “kibe” e é tão comum que existe até um evento próprio na rede social Twitter, chamado “The Voice Kibes”. Durante o evento, pessoas disputam atenção (ver validonanismo) por um “meme” único, a saber, o texto “o kibe no twitter ta tao fora de controle q vc ve a mesma piada em 30 conta diferente e ai vc precisa decidir em qual dessas contas vc vai gastar seu rt eh tipo um the voice kibes” (sic).

Digitonecrofilia

Compulsão de ordem neurótica em buscar informações sobre causa mortis de conhecidos e desconhecidos. Em casos extremos, acompanha-se familiares dos mortos, participa-se de comunidades-cemitérios digitais para discussões acaloradas (obs.: em desuso. Aos poucos o hábito se suplanta pela busca incessante de subcelebridades desaparecidas, no jogo conhecido como “Morreu ou Tá na Record?”).

Distractofilia

Padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas nas disseminação da prática de “comer o cu de quem tá lendo” (sic).

Imago-onanismo

Impulso obsessivo na manipulação de filtros digitais pré-programados para autorretratos instantâneos.

Imago-onanismo logorreico

Variação do imago-onanismo em que a obsessão pela auto-imagem é acompanhada por textos edificantes de origem duvidosa e contrastantes com os retratos expostos. Exemplo: as musas e os musos levíticos, ostentando corpos em posições sensuais e frases bíblicas. A variante motivacionismo sensual também é bastante praticada entre aspirantes a mentores, porém se conjuga à “mentoriafilia” em situação reversa.

Mentoriafilia

Transtorno psicótico que leva um grupo de pessoas a buscar receber ordens de pessoas desconhecidas com autoridade estabelecida apenas pelo número crescente de seus discípulos, isto é, seguidores. Uma variante da folie à deux, o transtorno delirante induzido, porém alimentada pelo prazer compartilhado em alimentar-se do discurso e imagens produzidos pelo mentor, “influêncer” ou “coach”.

Mito!m@ni@

Forma digital da mitomania (desejo compulsivo de mentir sobre assuntos importantes e triviais), em que o desejo está relacionado a produção obsessiva de “factoides” ou “fake news”.

Peodeiktofilia

Apesar de ser uma parafilia já catalogada e amplamente discutida — o exibicionismo, manifestado pelo desejo incontrolável de satisfazer-se com a exibição da própria genitália (em grande maioria, a masculina), com o advento da Internet a peodeiktofilia tomou proporções inimagináveis, em que pessoas substituem saudações cordiais por fotografias digitais das próprias genitálias.

Platonifilia

Uma variante da digitonecrofilia, porém é a busca de informação de pessoas em torno de alguém vivo com quem se deseja efetuar relações carnais, porém não há avanço nesse sentido. Versão digital do voyeurismo, que é amplificada pelo prazer em observar hábitos alimentares e de consumo da pessoa observada e também seu entorno. Indivíduos sujeitos a tal parafilia costumam circundar imago-onanistas e imago-onanistas-logorreicos.

Plantonifilia

Uma variante da sonambulifilia, em que o sujeito garante autossatisfação e excitação sexual pela vigilância permanente de meios de comunicação digitais.

Saudofilia

Prazer sexual obtido pelo envio de saudações casuais em redes sociais sem conteúdo discursivo aposto. O sujeito se satisfaz pela ansiedade causada no outro, com o envio de lacônicas mensagens como, por exemplo: “oi”. Em muitos casos, o sujeito saudofílico se relaciona de forma sádica com saudofóbicos, que apresentam sintomas de repulsa extrema e ansiedade a simples contatos comunicativos, e cuja espera de uma oração complementar ao “oi” pode causar náusea, tremores, e outras perturbações psíquicas. Uma variante, conhecida pelo nome vulgar de “oi sumido”, classifica sujeitos cuja saudofilia é desenvolvida após longa separação do sujeito a quem o saudofílico dirige seus contatos superficiais e nada objetivos.

Simforofilia onanista

Excitação sexual advinda da observação de catástrofes e tragédias, praticada por indivíduos solitários que sentem atração pela observação sistemática, por exemplo, da política brasileira e suas consequências.

Sonambulifilia

Há algumas variantes dessa parafilia, que tem como base o prazer em permanecer com insônia e alimentando a insônia de outrem. Em uma variante exibicionista, há o compartilhamento de imagens ou vídeos em horários avançados da noite, acompanhados dos dizeres irônicos “hoje vou dormir cedo/01 am” ou variantes do mesmo tema. Em alguns casos, a parafilia é justificada como uma forma de “bàofùxìng áoyè”, termo chinês para “procrastinação de vingança na hora de dormir”, i.e.: pessoas que não dormem para esgotarem suas forças de trabalho do dia seguinte.

Tinderofilia

Prazer de dispensar pessoas em aplicativos de relacionamentos rápidos, pelo simples arrastar de imagens dos dispensados à esquerda da tela.

Tretofilia

Prazer em buscar as arenas das redes sociais para lançar opiniões controversas e receber e lançar golpes argumentativos de baixo calão. Variante de transtornos sádico e masoquistas comuns, com o incremento da internet.

Validonanismo

A obtenção de excitação sexual pela validação automatizada em redes sociais, i.e., “likes”, “curtidas” ou “compartilhamentos”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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